23 abril 2024

Minha opinião/política

Lula simplifica em demasia

Luciano Siqueira

 

Em café da manhã com jornalistas, hoje, em Brasília, o presidente Lula afirmou que não vê problema com o parlamento. Nada que pela ação política não se resolva.

É o jeito de dizer do presidente, que simplifica as coisas quando quer afirmar sua convicção sobre determinado tema.

Às vezes acerta. Outras vezes erra, dá margem a incompreensões.

Mas não se pode depreender das palavras do hábil negociador que é Lula, desde os primórdios de sua militância, quando líder sindical, agora amadurecido pela longa experiência política, que a expressão exata deste problema é... sua inexistência.

Ora, quatro quintos da Câmara dos Deputados se elegeu votando em Bolsonaro. Tinge com as cores vivas do centro-direita e da direita a correlação de forças real no parlamento.

Claro que daí decorre a absoluta necessidade de negociar, incluindo a cedência em questões relevantes.

Tem sido assim desde o início do governo Lula 3.

E não tem sido fácil.

Daí se impor ao grande público o esclarecimento do que realmente acontece. E assinalar que a Câmara dos Deputados e o Senado, como todas as instituições, não são indenes à pressão social.

Ou seja, caberia a Lula completar seu comentário com uma referência à necessidade de que a base social do governo, o povo em especial, acompanhe pari passu os acontecimentos e se pronuncie de múltiplas formas em apoio à agenda de reconstrução nacional.

Leia: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/04/nivaldo-santana-opina.html

"O mercado acima de tudo"

Dowbor expõe os novos aspectos do rentismo

Pressão permanente por ampliar ganho dos acionistas leva corporações a devastar e precarizar. Lógica degradou a internet, onde agora pouco se cria ou colabora – pois às Big Techs interessam a disputa, o conflito e… a impotência social
/OutrasPalavras


Duas diretrizes principais estruturam o sistema de gestão empresarial: maximização e competição. A maximização está centrada nos resultados financeiros e, para obter resultados, você deve superar os demais. Pode-se alegar adesão aos ESG, mas o verdadeiro jogo é sobre maximização e guerra econômica, quaisquer que sejam os custos. O que precisamos é de outro paradigma, baseado no crescimento equilibrado e na colaboração. A gestão precisa ser fundamentada em valores.

(Ladislau Dowbor)

Manolito, não é verdade que existem outros valores, além do dinheiro? Manolito: Claro que existem, também temos cheques.
(Quino, Mafalda)

Nesta nova era em rede, o paradigma tradicional da concorrência precisa de dar lugar à complementaridade, à conectividade e à cooperação.
(Keyu Jin, pág. 282) 1

Os modelos de gestão no mundo corporativo são estruturados para maximizar resultados, e estes são definidos como meta principal, lucros financeiros e dividendos. Alguns chamam isso de otimização e parece bom. Os resultados também devem ser alcançados no menor tempo possível, prendendo o mundo corporativo numa corrida permanente. Os resultados sistêmicos e de longo prazo são mantidos fora do horizonte do processo de decisão e os impactos em maior escala são qualificados como “externalidades”, lavando as mãos das empresas. Um exemplo clássico é a reação da indústria de armas de fogo às críticas: produzimos armas, mas não puxamos o gatilho. Outro exemplo interessante é o da indústria de alimentos ultraprocessados: seria responsabilidade do consumidor ler os rótulos e proteger sua saúde. Na verdade, isto levou a outra indústria em expansão, a resposta farmacêutica à explosão da obesidade. Assim, temos duas indústrias em expansão, uma que produz alimentos ruins, a outra que produz remédios, e pagamos por ambas. Produzir alimentos saudáveis ​​poderia ser uma escolha melhor, mas não no interesse da maximização dos lucros, quer nos setores alimentar, quer no setor farmacêutico.

A concorrência na época de Adam Smith poderia parecer boa e até continuar positiva nas pequenas e médias empresas. Uma padaria tem que produzir bom pão a preços razoáveis, ou outra padaria aparecerá. Mas se uma empresa produtora de chocolate na Bélgica conseguir comprar cacau mais barato no Gana, fechando os olhos ao trabalho infantil, o concorrente responsável que respeita alguns direitos humanos básicos será ultrapassado. Se uma empresa da indústria de carne bovina na Europa conseguir um acordo melhor com a JBS no Brasil, quaisquer que sejam os custos externos para o Cerrado ou a Amazônia, isso forçará os concorrentes a recorrer a práticas semelhantes, para não serem superados. Quando um algoritmo da Pfizer fixa o preço do Paxlovid, comprimido para tratamento da covid-19, em 1.390 dólares, enquanto o custo de produção, segundo uma pesquisa da Universidade de Harvard, é de 13 dólares, está apenas calculando que os muito ricos pagarão qualquer coisa pela sua saúde, e este é o preço ideal em termos de maximização de lucro. Não se trata de maximizar o impacto na saúde, vender o produto com lucro razoável e torná-lo acessível a muitos.

O estudo de Max Fisher sobre o impacto social, econômico e político dos meios de comunicação social deixa as questões evidentes. Facebook, YouTube e algumas plataformas semelhantes são basicamente empresas de marketing, vendendo nosso tempo de atenção para corporações. O marketing, por exemplo, representa 98% do faturamento da Meta. As taxas de marketing dependem de quantas pessoas são alcançadas, por quanto tempo e de outros critérios de “engajamento”. Como os algoritmos são estruturados para maximizar o engajamento, o que chega ao topo é o que atinge mais profundamente nossas entranhas, não o interesse intelectual ou cultural, a empatia ou a colaboração, mas motivações poderosas como o ódio, a confirmação do preconceito, o sentimento de pertencimento (“nós” contra “eles”) e outras emoções que maximizam a atenção. A profundidade disso pode ser vista em tantos conflitos e polarizações políticas absurdas ampliadas radicalmente pelas mídias sociais. O livro de Fisher é corretamente intitulado The Chaos Machine (em tradução livre, A Máquina do Caos). 

A legítima otimização do lucro pelo padeiro da época de Adam Smith, quando inserido em algoritmos na era da revolução digital, com conectividade global e vieses de confirmação de epidemias, tem impactos negativos dramáticos. Não se trata de sermos “bons” ou “maus”, trata-se de ampliar instintos poderosos que existem em todos nós. Tendemos a esquecer que ainda somos fundamentalmente primatas, com grande inteligência, sem dúvida, mas com motivações profundamente problemáticas em relação à finalidade para a qual utilizamos essa inteligência. Somos parcialmente racionais, mas a capacidade cerebral acrescida não eliminou as motivações mais profundas que herdamos. O estudo de Frans de Waal sobre Nosso Macaco Interior mostra isso muito claramente. É assim que somos feitos, em nosso DNA. As plataformas de comunicação podem aproveitar essas emoções, e usar a tecnologia moderna para maximizar o comportamento dos primatas é simplesmente errado.

As mensagens do Facebook chegam a quase 4 bilhões, com horas de atenção, e têm custos radicalmente reduzidos em comparação com os anúncios de jornal que já tivemos. Somos apenas alimentados, e superalimentados, com mensagens tóxicas ajustadas individualmente. Anúncios e mensagens simplesmente colam nos seus olhos e filtram no fundo, gostemos ou não. 2

Lembremo-nos de que estas são as principais corporações mundiais, vender o nosso tempo de atenção é o grande negócio do presente. Também aqui a maximização funciona de mãos dadas com a concorrência: se uma empresa utiliza este tipo de manipulação de envolvimento emocional, outras vão segui-la, porque funciona, e estão lutando pela mesma mercadoria, o nosso tempo de atenção pessoal. Que é, na verdade, o momento das nossas vidas, o nosso capital pessoal mais precioso. Robert Reich resume: “Aqueles que procuram a nossa atenção – anunciantes, profissionais de marketing e políticos – enfrentam uma concorrência crescente para agarrá-la. Quando conseguem, nossa atenção se desvia de todo o resto. É por isso que a atenção está se tornando um recurso tão escasso.” 3

O sistema bancário brasileiro é outro exemplo rico. Neste caso, não se trata de competição, mas de conluio. Cinco bancos controlam 85% do crédito e cobram aproximadamente as mesmas taxas de juros extorsivas para famílias, empresas ou eventos sobre a dívida pública. Os juros da dívida de particulares durante 2023 oscilaram em torno de 55%, para uma inflação de cerca de 4%. Isto levou a uma fuga financeira para as famílias, equivalente a 10% do PIB, reduzindo drasticamente o poder de compra e, consequentemente, o estímulo da procura à economia. A taxa de juro média das empresas ronda os 23%, o que levou a uma redução do investimento produtivo. Para quem tem capital, tendo em conta que a procura está estagnada e as taxas de juro muito elevadas, se precisar de apoio financeiro, simplesmente optará por investir na dívida pública, pagando 8% líquido de inflação. Lucro sólido, sem risco, sem esforços de produção. Quando a renda financeira paga mais do que o investimento produtivo, é para lá que vai o dinheiro. Isto é simplesmente matar o ganso, com maximização a curto prazo. A economia está estagnada. 4

Não se trata de altos e baixos do mercado. É um sistema estruturado de extração de renda. Uma dimensão é a desinformação. Antes de 1994, o Brasil enfrentava hiperinflação, atingindo mais de 50% ao mês. Isso levou os bancos a apresentarem taxas de juros mensais. A hiperinflação foi reduzida, mas os bancos continuam a apresentar taxas de juro todos os meses, o que as torna semelhantes às taxas de juro anuais do resto do mundo. A taxa de juros de 100% será apresentada, nos bancos ou no comércio, como 6%, ou preferencialmente 5,9%. As pessoas pensariam que as coisas não poderiam ser tão simples: seria uma usura escandalosa. No entanto, isto é precisamente o que acontece, ao estilo do Mercador de Veneza, num país onde muito poucas pessoas sabem calcular o equivalente anual a uma taxa de juro mensal. Todos os bancos do Brasil, inclusive os internacionais, como o Santander, utilizam esse esquema. Temos 72 milhões de adultos na lista de incumprimento de crédito, cerca de metade da população adulta.

O Banco Central não deveria regular esse sistema de usura? Na Constituição de 1988, o artigo 192 estipulava que juros reais acima de 12% ao ano seriam considerados crime. Em 2003, com a entrada do recém-eleito Lula no governo, os bancos conseguiram eliminar o artigo 192. A usura, atualmente, não é crime, nem sequer é mencionada como questão legal. E o Banco Central, mais recentemente, foi declarado autônomo, colocado de facto nas mãos dos bancos e do sistema financeiro. O que levou a que a dívida pública pagasse as taxas de juro mais elevadas do mundo, basicamente ao mesmo sistema financeiro. Em 2023, a correspondente drenagem do orçamento atingiu o equivalente a 7% do PIB. O dreno financeiro improdutivo global que apresentei numa audiência do Congresso em Brasília é equivalente a 30% do PIB. Como grande parte dos congressistas tem forte investimento financeiro e, portanto, quer manter as taxas de juros tão altas quanto possível, isso se tornou uma deformação estrutural. É um drama para a economia e para a sociedade, mas é politicamente sólido. Até que ponto a democracia pode resistir quando a desigualdade atinge níveis absurdos?

A drenagem dos recursos naturais é outro exemplo. A água é um bem público e está rapidamente se tornando um recurso escasso. O The Guardian nos traz comentários a respeito do Relatório sobre a Água Doce, mostrando o impacto da privatização: “Mais de 30 anos depois da privatização da água, com a urbanização generalizada e a intensificação agrícola, é necessária uma nova abordagem – incluindo uma potencial reforma dos reguladores da água –”, diz o relatório. “Com os níveis de confiança nas empresas de água afetados por repetidos relatórios de poluição e especulação, tanto o público como os profissionais da água querem mais transparência e garantia de que as empresas estão agindo no interesse da sociedade e do ambiente.” 5 

Apenas 14% dos rios no Reino Unido estão “em bom estado ecológico”. A lógica é simples: quando a gestão da água é privatizada, vender água é um bom negócio e o tratamento de esgotos é um custo. Enfrentamos problemas semelhantes em São Paulo, onde a Sabesp, empresa de gestão de água parcialmente privatizada, maximiza as vendas de água, mas mantém baixo o tratamento de esgotos. Paris mostrou o caminho, com a restauração da gestão pública de água e esgoto. Interesses equilibrados.

Estes são apenas alguns exemplos. Mas o impacto geral é dramático. A Oxfam apresenta o impacto na sustentabilidade: “Desde 2020, os cinco homens mais ricos do mundo duplicaram as suas fortunas. Durante o mesmo período, quase cinco bilhões de pessoas em todo o mundo ficaram mais pobres. As dificuldades e a fome são uma realidade diária para muitas pessoas em todo o mundo. Ao ritmo atual, serão necessários 230 anos para acabar com a pobreza, mas poderemos ter o nosso primeiro trilionário em 10 anos. Uma enorme concentração do poder empresarial e monopolista global está exacerbando a desigualdade em toda a economia. Sete em cada dez das maiores empresas do mundo têm um CEO bilionário ou um bilionário como principal acionista. Por meio da pressão sobre os trabalhadores, da evasão fiscal, da privatização do Estado e do estímulo ao colapso climático, as empresas estão promovendo a desigualdade e agindo a serviço da entrega de uma riqueza cada vez maior aos seus proprietários ricos.” 6

No Brasil, para uma população de 203 milhões de pessoas, temos 33 milhões passando fome e 125 milhões em insegurança alimentar. O que produzimos equivale a mais de quatro quilos de grãos por pessoa por dia. Não poderíamos pelo menos alimentar as crianças?

Todos esses magnatas corporativos reivindicam a sua adesão aos princípios ESG, os principais políticos assinam as sucessivas resoluções da COP, a OCDE é severa na sua luta pelo BEPS, John Ruggie lutou durante uma década pelo respeito corporativo pelos direitos humanos, mas como ele próprio escreveu, “para corporações internacionais, são apenas negócios”. A verdade é que, a menos que as empresas se organizem eficazmente para o bem comum sistêmico e aprendam a colaborar, dado o seu poder global, as coisas não funcionarão. Estamos presos em um processo autodestrutivo. Até que ponto devemos entrar nesta crise econômica, social e ambiental crítica, até termos uma reação global? Fizemos isso depois da Segunda Guerra Mundial, criando um mínimo de governança global. Isso foi em outra época.

É claro que podemos imaginar que fomos feitos à imagem de Deus. Stephen Jay Gould, em seu Wonderful Life, é mais pé no chão, lembrando-nos que somos “meros macacos nus que adotaram uma postura ereta”. Macacos nus de alta tecnologia. Eles não veem o que está acontecendo? Devemos aprender racionalmente como lidar com a irracionalidade. Entretanto, os políticos aprenderam a navegar com base nos nossos piores instintos. Funciona.

Notas

1 Keyu Jin, The New China Playbook: Beyond Socialism and Capitalism , Viking, Nova York, 2023.
2 Pallavi Rao, Visualizing How Big Tech Companies Make Their Billions , Visual Capitalist, dezembro de 2023.
3 Robert Reich – Boletim informativo, Republicanos fazem afirmações selvagens sobre os perigos da imigração. Aqui está a verdade , The Guardian, 12 de janeiro de 2024.
4 L. Dowbor, The Age of Unproductive Capital: New Architectures of Power , Cambridge Scholars, 2019.
5 Sandra Laville, As ‘falhas’ conservadoras levaram a mais poluição de esgoto, dizem a água especialistas , The Guardian, 13 de janeiro de 2024.
Inequality Inc , Oxfam, 14 de janeiro de 2024.

Humor de resistência: Céllus

 

Céllus

Veja: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/04/fotografia-arte-de-assad-niazi.html 

Uma crônica de Ruy Castro

A vida começa aos 500

Mas não 500 anos à frente, como quer a inteligência artificial, e sim o contrário, muito melhor
Ruy Castro/Folha de S. Paulo

 

Ouvi dizer que, em 2045, a inteligência artificial fará com que uma pessoa viva até os 500 anos. É horripilante, mas não duvido. O que me pergunto é de que adiantará um sujeito viver até os 500 anos se, com a inteligência artificial, não lhe restará quase nada para fazer. Pelo que me contam, profissões como escritor, jornalista, psicanalista, juiz (inclusive de futebol), piloto de aviação, engenheiro, médico, bancário, professor, fotógrafo, ator e umas mil outras em breve estarão extintas por causa dela.

E, se vamos viver até os 500 anos, quando começarão as delícias da "melhor idade", como calvície, diabetes, impotência, artrose e demência? Aos 300 ou 350 anos? Sendo assim, ainda nos sobrarão 150 ou 200 para precisar de acompanhante, usar fralda e esquecer o próprio nome? Mal podemos esperar.

Se a inteligência artificial fosse mesmo a nosso favor, ela nos propiciaria, ao contrário, renascer 500 anos atrás e voltar aos poucos ao nosso tempo, presenciando o surgimento de muitas maravilhas. Eu, por exemplo, recuaria a 1448, ainda a tempo de pegar a invenção dos tipos móveis por Gutenberg, em 1450. Testemunharia a invenção do jornal, em 1605, dos óculos bifocais, em 1784, do apontador de lápis, em 1828, do daguerreótipo, pa i da fotografia, em 1839, e da máquina de escrever, em 1843. Todos, artigos de primeira necessidade, pelo menos para mim.

E que anos, aqueles: 1844, do código Morse; 1846, das rotativas; 1867, dos clipes de papel. O ano de 1791 também foi incrível: são dele o sistema métrico, a guilhotina e, olha só, as dentaduras. E seria pândego ver a chegada da camisinha, em 1560, do saca-rolha, em 1795, dos fósforos, em 1844, e do chiclete, em 1848.

Infelizmente, veria também a do revólver, em 1835, do rifle automático, em 1860, e da dinamite, em 1866. Instrumentos da morte, eu sei, embora menos letais que a inteligência artificial.

Leia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/05/minha-opiniao_18.html

Minha opinião/política

O crime ambiental tem classe

Luciano Siqueira

 

Após 32 anos da  Convenção da ONU sobre Mudança Climática em 1992, no Rio de Janeiro, por que se avalia que muito pouco foi feito para enfrentar as ameaças unanimemente detectadas?

Incúria dos governos? Talvez sim, mas nem tanto. Há que considerar antes de tudo o caráter predatório do sistema imperante no mundo, o capitalismo.

A ânsia do lucro máximo se soprepõe a todos os argumentos e temores. Governos são aparelhos estatais que praticam interesses da classe dominante - justamente capitalistas do mercado financeiro, da indústria e do campo.

Essa é, portanto, uma questão de sobrevivência da humanidade, que se entrelaça com a absoluta necessidade de progressão da lutas do povos no sentido da sua emancipação.

Desafios teóricos, políticos e práticos dramaticamente postos na ordem do dia.

A realidade é furta-cor https://bit.ly/3Ye45TD

Coreia do Sul em baixa

O sonho destruído do G8 da Coreia do Sul mostra que o Ocidente não está muito interessado nisso




A orgulhosa Coreia do Sul, que ansiava por um lugar no Grupo dos Sete (G7), não foi convidada para a cimeira do G7 deste ano, marcada para Junho, em Itália. 

Num comunicado de imprensa no final do sábado, o gabinete presidencial sul-coreano disse que os países são convidados para as reuniões do G7 com base no tema, e o tema principal das discussões do G7 este ano foram questões relativas a África e à região do Mediterrâneo. Parece uma tentativa difícil de encobrir o constrangimento. Mas o partido da oposição do país arrancou a folha de figueira. O Partido Democrático da Coreia disse no domingo que as políticas externas da actual administração - fortalecendo a sua solidariedade com os países ocidentais em detrimento das relações com a China - levaram ao resultado. 

O presidente sul-coreano, Yoon Suk-yeol, tem a visão de estabelecer a Coreia como um “país central global” e impulsionar a posição estratégica do seu país, reforçando os laços de rede com países com ideias semelhantes. Para a cimeira do G7 deste ano, foi relatado que o governo coreano esteve em consulta com a Itália sobre a potencial participação, uma vez que tem pressionado por uma iniciativa "G7 Plus". Não ter sido convidado é, portanto, um duro golpe na direção diplomática e na autoavaliação da Coreia do Sul. Este resultado prova que a Coreia do Sul não é tão importante aos olhos do Ocidente como Seul pode ter pensado. 

Moon Jae-in, ex-presidente da Coreia do Sul, foi convidado para as cúpulas do G7 em 2020 e 2021. Em maio do ano passado, Yoon foi convidado para participar da cúpula em Hiroshima, no Japão. Desde então, as vozes têm borbulhado com mais frequência sobre o sonho de Seul do G8. De acordo com o Korea JoongAng Daily, Yoo Sang-bum, legislador do Partido do Poder Popular da Coreia do Sul, disse em maio do ano passado que a Coreia do Sul se juntou psicologicamente ao G8. No mesmo mês, a VOA Coreia citou o ministro das Relações Exteriores da Coreia do Sul, Park Jin, dizendo que a Coreia do Sul está totalmente qualificada para se tornar um país do G8. 

Neste contexto, pode-se imaginar quão grande é o impacto deste convite sem G7 para o esforço do governo Yoon para o G7 Plus. 

Zhan Debin, diretor e professor do Centro de Estudos da Península Coreana da Universidade de Negócios e Economia Internacionais de Xangai, disse ao Global Times que embora o G7 Plus não esteja gravado em pedra e o "Plus" seja fluido e mutável, a oposição sul-coreana O partido tende a acreditar que Moon foi convidado para a cúpula por causa de seu valor, e Yoon foi convidado graças à influência do governo anterior. Portanto, quando Yoon não conseguiu garantir um convite, mesmo depois de tanto esforço diplomático, foi um fracasso total da administração Yoon. Afinal de contas, ser desprezado pelo G7 não é o único revés diplomático que a Coreia do Sul enfrentou recentemente. O país também foi reprovado na World Expo Bid no final do ano passado. 

Alguns analistas dizem que o Japão é o maior obstáculo à adesão da Coreia do Sul ao G7, dadas as suas disputas territoriais, queixas históricas, fricções comerciais e, mais importante, o Japão não está disposto a ver o seu próprio estatuto de único país asiático no grupo a ser desafiado, ou fazer com que Seul dilua a influência de Tóquio nos círculos liderados pelos EUA. 

Os EUA, por outro lado, têm pouca sinceridade em convidar também a Coreia do Sul para o grupo. Precisa do dinheiro, dos recursos e da postura da Coreia do Sul para manter a hegemonia. Mas também sabe muito bem como fazer Seul e Tóquio competirem pela atenção dos EUA. 

Desta vez, o sonho da Coreia do Sul do G8 foi destruído, mas o movimento embaraçoso deverá servir como um alerta para os equívocos passados ​​de Seul. 

A Coreia do Sul sempre considerou os países ocidentais como potências avançadas, esperando juntar-se a esses círculos exclusivos para demonstrar o seu próprio estatuto. Esta é uma manifestação do complexo de inferioridade da Coreia do Sul. Não percebeu que o Ocidente significa apenas um pequeno número de países no mundo, enquanto o grupo maioritário, representado pelos BRICS, está em ascensão, disse Zhan ao Global Times.

Também não percebeu que na geopolítica, se alguém for apenas um seguidor puro, ela não existe.

Zhan disse que o episódio do G7 mostra que muitos países ocidentais não levam a Coreia do Sul a sério, é a própria Coreia do Sul que tende a superestimar a sua própria influência. Em muitas questões globais, a Coreia do Sul não tem voz ativa. Só é necessário que os países ocidentais paguem a conta.

No passado, a Coreia do Sul foi cortejada pelo G7 apenas devido à sua relação amigável com a China, que conferiu a Seul um valor estratégico mais elevado. Agora que a Coreia do Sul se alinhou totalmente com o Ocidente, posicionando-se proactivamente contra a China, já não é necessário que o Ocidente faça muitos esforços para cortejá-la, acrescentou Zhan. 

No entanto, Yoon não descobriu isso. Se a Coreia do Sul quer realmente um respeito genuíno por parte do mundo, os seus esforços não devem centrar-se no G7, mas sim em deixar de seguir cegamente os EUA no confronto deste último contra a China, e em tomar decisões maduras em benefício da Coreia do Sul. É necessária uma espinha dorsal sólida para se tornar um país central global.

Para onde correm as águas https://bit.ly/3Ye45TD

Humor de resistência: Miguel Paiva

 

Miguel Paiva