30 julho 2006

A versão e o fato (1)

É até arriscado esse comentário, pois pode gerar incompreensões e mal-entendidos entre os bons, éticos e competentes jornalistas que fazem a cobertura política em Pernambuco. Mas é oportuno fazê-lo.

Atribui-se a um dos velhos políticos mineiros (José Maria Alckmin? Magalhães Pinto? Tancredo Neves?) a assertiva de que em política mais vale a versão do que o fato. A prática parece comprovar isso, ao longo da História. Desde que a versão seja repetida à exaustão, emoldurada por um quê de veracidade.

Quem esteve ao lado de Lula no sábado e no domingo em que o ele veio ao Recife e a Olinda, no início de sua campanha de rua, como esse amigo de vocês, jamais poderá aceitar como verdadeira a versão de que o presidente em algum momento tenha se constrangido por dividir o palanque com o ex-ministro Humberto Costa, em razão de denúncias (infundadas) veiculadas pela revista Veja, a partir de uma suposta declaração de mafioso (desmentida pelo próprio, através do seu advogado). Ao contrário, Lula dedicou a Humberto Costa atenção, carinho e plena solidariedade, a ponto de defendê-lo numa entrevista coletiva e de rechaçar, com vigor, na parte final do seu discurso, em Brasília Teimosa, o que chamou de denúncias infundadas e irresponsáveis – embora tendo o cuidado de não citar o nome de Humberto. O presidente chegou a ameaçar os detratores, dizendo que eles “devem medir o tamanho da língua, pois como presidente, me manterei numa posição de magistrado; mas como candidato, responderei à altura!”. Ele também sentia atingido, e não era para menos, pelas maledicências da Veja contra Humberto.

Entretanto, para surpresa de quem esteve o tempo todo por dentro dos fatos, o blog do jornalista Ricardo Noblat registrou em nota escrita no condicional, que o presidente “teria” se constrangido ao estar ao lado de Humberto. Mera ilação, subjetivismo puro, sem nenhuma relação com os fatos. Depois, a coluna Painel, da Folha de São Paulo, veiculou a versão, salvo engano, três edições seguidas. Agora, a mesma revista Veja, a reproduz. Basta que na província a versão seja aceita como real, e venha a ser repetida tantas vezes quanto seja conveniente aos interessados, terminará ganhando status de verdadeira. Dando razão, mais uma vez, aos velhos políticos mineiros.

Esperamos que assim não aconteça. Para o benefício dos leitores, que têm o direito à informação veraz e de qualidade.

2 comentários:

Anônimo disse...

A Folha de Pernambuco acabou dando sua contribuição nesse sentido de massificar o constrangimento do presidente em estar ao lado de Humberto, até transformá-lo em verdadeiro... a entrevista de Sérgio Guerra na edição de domingo dizia: "Foto com Humberto só deu prejuízo"...mais uma inverdade que a direita teima em alardear.

Luciano Siqueira disse...

Seu comentário é oportuno e correto. Verifiquei também a entrevista do senador Guerra na Folha de Pernambuco. Grato pela contribuição - mas faltou você se identificar... Abraço, Luciano