28 janeiro 2007

Bom dia, Paul Éluard

Picasso

Coragem

Paris tem frio Paris tem fome
Paris já não come castanhas na rua
Paris anda vestido de velha
Paris dorme de pé sem ar no metropolitano
Ainda mais sofrimento é imposto aos pobres
E a sabedoria e a loucura
De Paris infeliz
É o ar puro é o fogo
É a beleza é a bondade
Dos seus trabalhadores famintos
Não peças socorro Paris
Estás vivo com uma vida sem igual
E por detrás da nudez
Da tua palidez da tua magreza
Tudo o que é humano se revela nos teus olhos
Paris minha bela cidade
Fina como uma agulha forte como uma espada
Ingênua e sábia
Tu não suportas a injustiça
Para ti só existe a desordem
Vais liberta-te Paris

Paris bruxuleante como uma estrela
Nossa esperança sobrevivente
Vais liberta-te da fadiga e da lama
Irmãos tenhamos coragem
Nós que não usamos capacetes
Nem botas nem luvas nem somos bem educados
Um raio se acende em nossas veias
Os melhores de nós morreram por nós
E eis que o sangue dos que morreram nos volta ao coração

E de novo é a manhã uma manhã de Paris
O extremo da libertação
O espaço da Primavera que nasce
A força idiota está na mó de baixo
Estes escravos nossos inimigos
Se compreenderem
Se forem capazes de compreender
Erguer-se-ão.

2 comentários:

Anônimo disse...

Caríssimo Luciano Siqueira,

Belíssimo poema de Paul Éluard, vc é um caçador de pérolas e preciosidades que nos regalam a alma.

Viajei, em férias, mas não deixei de vir aqui no blog acompanhar as notícias, sabedora de que vc tmb estava em pequenas férias, sobejamente merecidas.

Abraço forte,
Obrigada por tudo.

Selenia Granja

Anônimo disse...

Para vc, Luciano, um poema de Murilo para Goeldi, que tanto "gravou" o povo e sua alma, tão esquecida pela anti-arte feita por quem não se importa.


Homenagem a Oswaldo Goeldi

Murilo Mendes

Oswaldo gravas:A ti mesmo fiel, ao teu ofício,
Gravas a pobreza, o vento, a dissonância,
A rude comunhão dos homens no trabalho.
Gravas o abandonado, o triste, o único,
O peixe que te mira quase humano
— É hora de morrer —
No preto e branco, no vermelho e verde.
Qualquer traço perdido,
A casa que espia pelo olho-de-boi
Testemunha de drama anônimo.
Gravas a nuvem, o balaio,
O geleiro e seus estilhaços.
O choque em diagonal de guarda-chuvas,
Tudo o que é rejeitado, elementos marginais,
A metade dum astro que se despe
Amado só do penúltimo vadio.
Oswaldo gravas,Gravas qualquer solidão.
Os peixeiros que partilham peixe e onda,
Pássaros de solidões de água e mato,
O sinaleiro do temporal próximo,
A barca puxada pela sirga,
O bêbedo e seu solilóquio,
A chuva e seus túneis,
O mergulho em tesoura da gaivota.
És do sol posto, da esquina,
Do Leblon e do uivo da noite.
Não sujeitas o desenho à gravação:
Liberaste as duas forças.
Atingindo agora a unidade,
Pela natureza visionária
E pelo severo ofício
A tortura dominando,
Silêncio e solidão
Oswaldo gravas.


In: MENDES, Murilo. Poesias, 1925/1955. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1959

IMAGENS: OSWALDO GOELDI

1.Abandono
Xilogravura a cores 17,3 X 21,8, 19372.
2.Casas Tenebrosas
Xilogravura a cores 26.5 x 38.2 Sem data
3.Céu vermelho
Xilogravura a cores, 22 x 30, 1950
POESIA:Franscisco Araújo
LINK:http://www.gravura.art.br/
posted by La Pasionaria Selenia at 8:29 PM

com afeto

Selenia