25 abril 2007

O que muda com Luciano Coutinho no BNDES?

No Olhar Direto:
. A reflexão é de Luis Nassif, em seu blog: "O BNDES com Luciano Coutinho”.
. Para entender o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), a partir da índicação de Luciano Coutinho para a presidência. Grosso modo, há três linhas de pensamento em relação ao BNDES. Uma, que vigorou de Eduardo Modiano (governo Collor) até o governo FHC, consistia em transformar o banco em um grande banco de investimento, trabalhando com modernas ferramentas financeiras e análises de planos de negócios, mas sem nenhuma visão estratégica ou estrutural.
. Especialmente na fase da privatização, foi um período absurdo. Saía-se de um modelo estatal na siderurgia, petroquímica, fertilizantes. Para transitar para o modelo privado, havia a necessidade prévia de análises sobre as características desses setores no mundo.
. Por exemplo, a petroquímica exige consolidação, escala. Com a implosão do sistema Siderbrás, havia condição de se montar um grande grupo privado nacional, de controle compartilhado. Nada isso ocorreu. Optou-se por vender picado, para maximizar o valor de venda. ***
. A segunda linha de pensamento foi trazida de volta para o banco na gestão Carlos Lessa. Tentava se retomar o espírito dos anos 80, no qual o banco decidia sobre o futuro de setores, induzia o setor privado a investir maciçamente –muitas vezes, a realizar sobre-investimentos. Tentava-se recuperar não apenas o banco que ajudava a criar cenários futuros, como a moldar o país.
. O modelo não foi ressuscitado, em parte devido ao terremoto da transição, que desarticulou os quadros do banco e fez a gestão Lessa perder um tempo enorme para remontar a estrutura. Em parte porque os novos tempos já não comportavam esse modelo. ***
. Com Guido Mantega e Demian Fiocca, o banco acabou aderindo a uma linha já delineada nos anos 80 pelo grupo que comandou a “teoria da integração competitiva”, o plano de abertura econômica.
. Com o tempo, esse grupo passou a contar com Antonio Barros de Castro como o grande teórico. Ex-presidente do BNDES (no governo Itamar), Barros voltou para o banco com Mantega.
. Na sua visão, passou o tempo do banco definir setores vitoriosos. O Brasil é uma economia suficientemente sofisticada para que se apliquem as chamadas políticas horizontais –isto é, que influenciem todas as empresas indistintamente. Entre essas políticas está a indução à inovação, à busca de novos mercados, à gestão etc.
. Esse grupo também recuperou ferramentas financeiras desenvolvidas no período anterior, e que são bons instrumentos de ação. O problema do BNDES do período anterior não era o de utilizar ferramentas de bancos de investimento. Era o de se limitar a pensar como banco de investimento. ***
. O pensamento do economista Luciano Coutinho é similar ao de Barros de Castro. Luciano participou dos primeiros estudos para mapeamento das cadeias produtivas brasileiras, ainda no governo Collor –encomendados pelo mesmo grupo da “integração competitiva”, que ocupou cargos no período.
. Essa experiência setorial será relevante para juntar a parte positiva dos diversos modelos em uma ação mais efetiva. Principalmente porque, a exemplo do primeiro governo FHC, o BNDES terá papel crucial para evitar o desaparecimento de diversos setores da economia, por culpa do câmbio apreciado.

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