21 junho 2007

Nossa coluna de toda quinta-feira no portal Vermelho

Entre a ousadia e o voluntarismo

O materialismo histórico, fundado por Marx e Engels, que teve no “18 Brumário de Luis Bonaparte” o primeiro exemplo de aplicação à análise de uma conjuntura política determinada; e a abordagem dialética da relação entre condições objetivas e fatores subjetivos, exercitada por Lênin na Revolução Russa de 1917, podem e devem inspirar os comunistas no exame da situação concreta de cada município e na formulação da alternativa tática adequada aos objetivos estratégicos do Partido face o pleito de 2008.

Ditas assim essas assertivas parecem óbvias como referências teóricas próprias de um partido revolucionário. Porém significam mais do que isso, uma vez que um conjunto de variáveis concorre na atualidade para que os comunistas encarem com mais ousadia as eleições municipais de 2008.

Complicado? Nem tanto. A referência ao “18 Brumário” vem a propósito da complexidade de conjunturas locais, em diversos municípios importantes do ponto de vista geopolítico, em que importa ir além das aparências e dos fatos imediatos e descer à profundidade dos conflitos e das motivações das forças políticas em presença. Os homens não agem apenas de acordo com o seu desejo subjetivo, mas conforme o entrechoque dos interesses de classe no qual objetivamente estão inseridos, ensina Marx na obra citada.

Já o manejo dialético da relação entre condições objetivas maduras para determinada empreitada e os fatores subjetivos que sobre ela atuam ou podem atuar - destacando-se aí o papel do partido de vanguarda suficientemente sagaz e hábil para unir forças e mobilizá-las em torno de objetivos comuns -, de que Lênin foi mestre inconteste, cabe também como indicação. Na velha Rússia predominantemente agrária e culturalmente atrasada, a vanguarda bolchevique soube explorar competentemente a situação revolucionária parida pela II Guerra e ousou constituir o poder socialista não obstante a existência de forças produtivas e de relações de produção capitalistas insipientes.

Em outras palavras: quando uma corrente política deslinda com exatidão o quadro real de forças e as possibilidades de avançar e se mostra capaz de manobrar taticamente com habilidade e firmeza, pode alcançar conquistas além da sua força real. E, a partir das posições conquistadas, fortalecer-se de modo a responder aos novos desafios daí decorrentes.

A ousadia, nesse caso, nada tem a ver com o voluntarismo dissociado da realidade concreta, cego e inconseqüente.

Mas a fronteira entre a ousadia e o voluntarismo nem sempre é nítida e isso nos remete a critérios de valor político decisivos. Um deles: jamais ir à luta isoladamente, sem o apoio consistente de aliados.

Nesse sentido, cá na província pernambucana já vivemos situações distintas e emblemáticas, desde 2000.

Em Igarassu, por exemplo, patrocinamos uma candidatura majoritária carente de apoios – que se isolou e teve desempenho pífio; e até hoje o Partido engatinha. Caso explícito de voluntarismo.

Em Olinda, entretanto, embora ainda frágil, o PCdoB foi capaz de reunir amplo arco de forças em torno da candidata Luciana Santos e venceu. No pleito seguinte, quatro anos após, afirmou-se como corrente política hegemônica na cidade, reelegeu a prefeita e fez a maior bancada individual de vereadores. Exemplo de ousadia conseqüente.

Ambas as experiências renderam lições que agora somos chamados a levar em conta tendo em mira o pleito de 2008.
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