26 julho 2007

Nossa coluna semanal de toda quinta-feira no portal Vermelho

Governos de centro-esquerda: a teoria e a prática

Em debate a escalada da violência criminal urbana nos países do Cone Sul, no seminário Hacia una visión política progressista en Seguridad Ciudadana, de que participamos, em Santiago, Chile, a convite do Instituto Igualdad e da Friedrich Ebert Stiftung (FES). À mesa, o sociólogo e professor universitário chileno Hugo Espinoza; a ministra do Interior do Uruguai, Deise Tourné; René Jofré, diretor de segurança do ministério do Interior do Chile; Martin Appiolaza, diretor da Escuela Latinoamericana de Seguridad e Democracia, da Argentina; e esse amigo de vocês, na modesta condição de vice-prefeito do Recife.

As opiniões são convergentes quanto ao diagnóstico da situação, grave e desafiadora. Idem quanto ao que os debatedores consideram fundamentos de uma política pública progressista na área da segurança – abordada sob novos paradigmas, diversos dos conceitos de segurança nacional e defesa do Estado que sustentavam a repressão política nas ditaduras miliatres em nosso subcontinente. Hoje se pretende uma “segurança cidadã”, focada na construção de ambientes seguros para a vida das pessoas em nossas cidades.

Mas surgem discrepâncias justamente quando se verifica, no curso do debate, uma tendência a examinar o assunto de maneira exageradamenmte setorial. As correntes de esquerda estariam, no dizer dos painelistas, demasiadamente embaraçadas diante da tarefa de gerirem o aparato estatal no que diz respeito à segurança.

Ora, essa dificuldade não estaria se verificando igualmente nas demais áreas da gestão pública em nível federal? Que dizer das políticas macroeconômicas ainda imperantes no Brasil, no Chile, na Argentina e no Uruguai, cujos presidentes são filiados a partidos de esquerda?

A questão que introduzimos parece despertar painelistas e público para algo que deveria ser óbvio. Nossos atuais governantes alcançaram seus postos sob condições nada revolucionárias e ainda por cima continuam constrangidos pela engrenagem do Estado mínimo neoliberal construída pelos seus antecessores.

Superar essa engrenagem é indispensavel para que se possa colocar o Estado nacional efetivamente a serviço do desenvolvimento e do bem-estar de nossas populações.

Aí reside um diferencial quando se discute limites e possibilidades dos nossos governos de centro-esquerda dos países do Cone Sul. Analistas que se ocupam de políticas setorias eludindo a natureza do Estado terminam se perdendo em teses bem-intencionadas, porém distantes da realidade concreta.

Por isso, em muitos casos, acadêmicos e técnicos de inegável valor, convidados a desempenhar papel na gestão pública, com alguma frequência se assustam ao perceberem que na prática a teoria muitas vezes é outra...

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