10 janeiro 2008

O complexo jogo da política

Coluna semanal no portal Vermelho:
O 18 Brumário e as eleições municipais
Luciano Siqueira

Seria muito útil a todos os que de modo direto ou indireto tomam parte nas gestões preparatórias do pleito de outubro a leitura do 18 Brumário de Luis Bonaparte, a primeira análise de uma situação política determinada (a da França) escrita à luz do materialismo histórico, justamente pelo seu fundador teórico, Karl Marx, entre dezembro de 1851 a março de 1852.

Passados 156 anos, a obra continua atual e útil a marxistas e a não-marxistas. Para que compreendam que o processo político não se dá tão somente a base da vontade subjetiva dos atores envolvidos. Há variáveis outras, de ordem objetiva, em certa medida determinantes do comportamento subjetivo deste ou daquele líder, e mesmo dos partidos políticos, relacionadas com os interesses de classe ou de segmentos de classe em presença.

Por isso a política não é um simples jogo de damas; é de xadrez, mais complexo. Via de regra não basta a uma determinada corrente política ter força acumulada, é preciso que tenha também juízo para exercer essa força – e exercê-la pelo convencimento, pela conquista de adesões conscientes; para que adiante, uma vez instalada a luta aberta, possa reunir descortino, vontade e emoção, ingredientes indispensáveis à conquista da vitória.

Por aí se entende os muitos exemplos em que uma corrente menos robusta logra êxito na aglutinação de aliados partidários e sociais o suficiente para virar o jogo. Daí se dizer, após o desenlace da peleja, que o resultado final foi surpreendente. É que o inesperado brota dessa coisa fascinante que conjuga a um só tempo ciência e arte, que é a tática política.

O comentário é oportuno, agora que se iniciam praticamente em todo o país conversações entre lideranças e partidos tendo em vista a batalha eleitoral que se avizinha. Vale particularmente para os partidos à esquerda, chamados a intervir no cenário mediante postura ampla e flexível, ousada e hábil.

A estes partidos – e de resto a todas as forças que tenham um mínimo de maturidade – não se dispensa, em cada município, a análise concreta da correlação de forças atual e de fatores que poderão alterá-la adiante; a fixação de objetivos claros e viáveis; e a definição de um roteiro político e eleitoral realista.

Mera digressão teórica? Nada disso. Basta olhar em torno e examinar os acontecimentos para perceber que o dito acima casa com a realidade em movimento.

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