17 fevereiro 2008

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Analistas alertam: cartão corporativo não pode pautar o país

A discussão sobre o uso dos cartões corporativos é importante e deve ser apurada com rigor pelos organismos competentes, mas o tema deve ser tratado com serenidade e não pode pautar o debate nacional. A opinião é de Fábio Wanderley Reis, cientista político e professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais, de Fábio Konder Comparato, professor titular aposentado da Faculdade de Direito da USP, e do filósofo Denis Lerrer Rosenfield.

Conforme reportagem de Lilian Christofoletti para a Folha de S.Paulo deste domingo (17), analistas vêem exagero na cobertura da imprensa. "É um problema autêntico saber se existe uso impróprio de verba pública. Mas deveria existir um equilíbrio justamente para impedir que essa discussão resulte em conseqüências negativas sobre algo que, a princípio, me parece perfeitamente razoável e positivo, como o uso de cartões, o que favorece a transparência", diz Reis.

Rosenfield acrescenta: "Tapioca? Jantar com a delegação chinesa? Meu Deus, isso é patrulhamento moralista. No caso dos cartões, a discussão não deveria estar na tapioca, no colchão ou no jantar, isso é absolutamente irrelevante, mas nos saques que não são contabilizados em lugar nenhum."

"Filtramos um mosquito e engolimos um camelo", afirma Comparato, para quem o escândalo criou uma nuvem de fumaça para outras questões importantes para o país. "A utilização de dinheiro público deve ser em benefício do interesse público. Mas fazemos um escândalo a respeito dos abusos no uso do cartão e dispensamos a discussão de outros casos de apropriação de bem público, caso das reservas florestais e do rio São Francisco. Dois pesos, duas medidas."

Reis critica a cobertura da imprensa. "A imprensa tende a ecoar, de uma forma um tanto exacerbada, o que quer e o que corresponde a uma certa imagem negativa da atividade política, em conexão com a idéia de corrupção."

Entre os entrevistados, Comparato foi o único a desaprovar o uso de cartão corporativo. Para o professor, o emprego do dinheiro público deve ser dificultado, nunca facilitado com cartões distribuídos entre vários funcionários. O caminho, afirma, está no retorno das verbas de representação - a autoridade recebe um valor fixo.

Um ponto convergente entre os estudiosos é a necessidade de ampliar a transparência do uso do dinheiro público, o que incluiu até mesmo os gastos do presidente e seus familiares. Eles criticaram o argumento do governo de que o sigilo dos gastos da Presidência é uma questão de segurança nacional. (Da Redação, com informações da Folha de S.Paulo).

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