12 abril 2008

Bom dia, Jaci Bezerra


Linha d'água

Em Alagoas me achei, achando o mar,
desde então o conservo em mim, aberto,

porém nunca aprendi a soletrar
a insone cadência dos seus metros.

Talvez porque o mar, nervoso e inquieto,
no pacífico silêncio onde Deus viça,

não escreve nem repete o mesmo verso
no seu caderno de águas movediças.

Achando o mar me fiz cúmplice da beleza,
mas ao me consumir em suas chamas

soube que a alma é uma onda de incerteza
presa na cela da nossa areia humana.

Aprendi com o mar a ser constante
e a aceitar, sem pudor, as coisas frágeis:

a fazer da inconstância dos instantes
lembranças o mais possível perduráveis.

Entregue ao mar, pago ao mar o meu tributo,
e ao escutá-Io na minha humana cela,

sinto que o mar, fremindo longe e oculto,
me conta coisas que a ninguém revela.

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