29 junho 2008

Bomfim, Tânia e a globalização

No Vermelho:
O Tênis e a Emoção
por Eduardo Bomfim

Lendo o artigo “Globalização e território” da economista e socióloga pernambucana Tânia Bacelar, encontro importantes reflexões sobre esse assunto tão candente. Ela nos diz que a globalização é uma etapa específica, muito avançada, do velho processo de internacionalização do capital.

E que ele é um dos movimentos estruturais e estruturantes do capitalismo, mas com a intensidade e extensão atuais, ele é novo. Assim, a palavra “globalização” pretende expressar tal novidade. Globalizaram-se os principais fluxos econômicos mundiais, os comerciais, os financeiros, de investimentos produtivos e os mercados.

Dessa maneira, assevera-nos Tânia Bacelar, internacionalizaram-se também os padrões. Ou, pelo menos, essa é a tendência dominante. Assistimos, então, ao movimento de uniformização das culturas, das tradições, da gastronomia, das novidades.

Tentam pôr no liquidificador as permanências e as renovações de todas as nações e povos. Essa reorganização dos espaços territoriais é uma imposição surgida da necessidade do mercado global e tem como objetivo vender os mesmos produtos para todos em qualquer parte do mundo.

O incrível nisso tudo é que até os valores da chamada cultura alternativa estão sendo absorvidos e transformados em uma espécie de totem para a faixa da população de alto poder aquisitivo.

É o caso, informa a mídia global, do bilionário mercado de alimentos naturais, os chamados “orgânicos”, a mais nova, mais sofisticada, promissora e cara, área de expansão de artigos alimentícios.

Quanto ao tênis, o assunto não foge à regra. E Tânia Bacelar cita, como exemplo, a entrevista com um alto executivo da Nike. Ele diz que a empresa não produz o calçado. Trata-se de uma tarefa de centenas de fábricas espalhadas pelo mundo, principalmente na Ásia.

Produz mesmo é “a emoção de calçar um Nike”. Ou seja, o marketing do produto, centralizado na matriz, nos Estados Unidos. A corporação compra esse tênis e “agrega emoção”.

A renomada professora afirma que a globalização e a identidade nacional são duas categorias inexoráveis da realidade contemporânea, porém, contraditórias. Uma precisa desconstruir moedas, culturas e nações para impor a hegemonia. A outra, necessita resistir a essa ofensiva para que um território e um povo não se despersonalizem. Ou, mesmo, desapareçam.

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