03 julho 2008

Fragilidade crônica

Coluna semanal no portal Vermelho:
Partido, partidos
Luciano Siqueira

O Brasil – esse imenso e multifacético continente – mais do que nunca precisa de partidos nacionais de verdade, e, no entanto quase não os tem. O advérbio aí é por conta do PCdoB, com todo o respeito aos demais, aliados ou não. No período pré-eleitoral recém concluído isso ficou mais uma vez patente.

A necessidade de partidos atuantes em todo o território (ou pelo menos nos municípios mais influentes da maioria dos estados) de forma una e coesa é tão evidente quanto o desafio de influenciar os destinos da nação, ultrapassando os limites do município ou da região. Pois o pleito que se avizinha, ainda que municipal, terá peso expressivo na correlação de forças face o pleito seguinte, de natureza geral e que porá em causa o poder central. Vale tanto para o lado governista quanto para a oposição: como acumular forças numa determinada direção se a ação política se deixa fragmentar pelas contingências locais?

No lado governista vivemos a ante-sala do “pós-Lula”, impondo-se um mínimo de bom senso para que possamos vencer as futuras eleições presidenciais e dar continuidade ao penoso processo de mudanças em curso. Isso significa, entre muitas outras condições, a gestação de um ambiente propício à convergência de idéias e energias. A fragmentação conspira contra.

Daí o desafio de conviver com as pressões (naturais e até legítimas) dos interesses próprios de cada partido, cada um a seu modo cuidando de se fortalecer agora para avançar daqui a dois anos; e também das peculiaridades locais, que refletem em boa medida o perfil socioeconômico e cultural desigual e diversificado da sociedade brasileira. Conviver com essas pressões através de uma postura propositiva, submetendo a parte ao todo, os interesses locais às necessidades nacionais.

É aí que os partidos são chamados a adotar orientações nacionais passíveis de execução em cada lugar, implementadas por direções que se façam ouvir e respeitar. Direções nacionais que dirijam, que liderem, que convençam e sejam seguidas – sob pena de virarem meras abstrações, envoltas na teia questionável da autonomia das direções locais.

Bom – dirá o leitor - para o um partido como o PCdoB é fácil falar assim – sua base teórica e programática, seus princípios diretores e o caráter uno de sua linha política o permitem. Aos partidos constituídos por tendências organizadas e independentes entre si ou por um mosaico de grupos regionais, torna-se quase impossível pensa e agir dessa forma. É verdade, mas não justifica; antes reforça a importância de se fortalecer os partidos como organizações efetivamente nacionais. Mas ainda temos muita estrada a percorrer para que isso aconteça.

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