28 agosto 2008

Coluna semanal no Portal Vermelho

Olhares atentos e rigorosos
Luciano Siqueira

Em tempo de tantas denúncias, fundadas ou não, o candidato caminha submetido ao crivo das idéias e da conduta e constantemente é chamado, como a mulher de César, a provar que é honesto. Mesmo os que ostentam longa, conhecida e inquestionável trajetória.

- “Faz muito tempo que lhe acompanho pela imprensa e sempre me falaram bem a seu respeito, mas confesso que antes de vir aqui pesquisei na internet se há algum processo ou acusação contra o senhor. Felizmente não encontrei nada, parabéns!” – disse-me a comerciante de idade mediana e sem vida associativa, participante de uma reunião de residência convocada por amigos.

Outra, a caminho do trabalho, cedinho da manhã, ao abaixar o vidro do carro para receber de minhas mãos um panfleto, no cruzamento de duas avenidas movimentadas, foi taxativa:

- “Só o senhor para encarar a gente de frente e distribuir pessoalmente seus panfletos! Hoje em dia, doutor, são poucos os políticos que têm essa coragem.”

Talvez não sejam assim tão poucos, embora seja notória – pelo menos cá na província – a inibição de candidatos à Câmara Municipal, que pouco se expõem ao contato com os eleitores na via pública. Uma espécie de conduta defensiva face o ambiente contaminado pela suspeita e envenenado pelo chamado denuncismo que a quase todos atinge, indiscriminadamente, sem muito espaço para a defesa.

Ir a qualquer lugar, cumprimentar as pessoas, falar da própria história de vida e de luta, expor idéias e assumir compromissos, sem qualquer dificuldade e ainda sob o benefício da boa acolhida tranqüiliza e entusiasma a gente. Mas não deixa de ser preocupante o clima de desconfiança generalizada que dificulta os passos de muitos candidatos corretos e sinceros, e que ao invés de qualificar a capacidade de julgamento do eleitor pode, ao contrário, rebaixá-la. E, como subproduto, incrementar a passividade que a nada leva e só favorece aos que participam da peleja apoiados no poder econômico e no clientelismo.

Que sejam atentos e rigorosos os olhares dos eleitores, tudo bem; porém é preciso desmitificar a falsa idéia de que a maioria ou quase todos os políticos se deixam envolver em condutas inadequadas ou buscam tirar proveito pessoal dos cargos que ocupam. Este que lhes escreve já fez umas tantas coisas na vida - de balconista de bodega a funcionário público; de artesão e jornalista a médico - e não vacila em afirmar que é exatamente na vida política que tem encontrado o maior percentual de pessoas sinceramente devotadas ao bem comum.

A campanha eleitoral da azo a que essa verdade seja explicitada, desde que os que pleiteiam cargos e que nada devem assumam conduta ofensiva e se revelem perante os eleitores com a mesma garra com que defendem suas idéias e buscam o voto.

Um comentário:

Anônimo disse...

Divulgue mais este texto. Ficou muito bom! Um abraço!