18 novembro 2008

Opinião de Sérgio Augusto

O pluralismo brasileiro se impõe sobre velhas idéias
Sérgio Augusto Silveira*

Para alguns pode ser algo inacreditável, mas para nós trata-se de um fruto benfazejo dos tempos pluralistas que reafirmamos hoje. Refiro-me à mais lúcida avaliação do recado dado ao País pelas eleições de 2008, avaliação essa feita pelo vereador eleito, ex-preso político e dirigente comunista Luciano Siqueira.

Os que acham inacreditável a avaliação do comunista argumentam que é impossível admitir que ele considere o pluralismo brasileiro – reafirmado nas urnas – como algo benéfico, já que a orientação tradicional da foice e do martelo sempre foi pelo dirigismo centralista, a partir de uma única sigla, dona do poder e da opinião. Aqueles descrentes, fundamentalistas do conservadorismo à brasileira, não admitem que haja transformação, mudanças na visão de mundo por parte dos seguidores de Karl Marx.

Nada é parado no universo; tudo se transforma, aquilo que é hoje não será amanhã, já comprovaram os antigos e nós, vendo os fatos do dia-a-dia. No entanto, os fundamentalistas de direita parecem não crer nesta lei quando se trata de seus próprios casos. Desejam que os
unipartidaristas e centralistas vermelhos de ontem continuem parados como postes ainda hoje.

O vencedor Luciano Siqueira, em seu artigo “Benéfico pluralismo” publicado no seu blog e no jornal do PCdoB, revela exatamente o contrário ao avaliar as recentes eleições municipais. Vê no resultado das urnas, do Amapá aos pampas gaúchos, uma afirmação categórica do
pluralismo a partir do fato de que nenhum partido esmagou outras correntes.

Não foi o PT que ganhou, nem o PMDB, nem o PSDB, nem o DEM ou qualquer outra legenda ou corrente. Para Luciano, todos ganharam, porque quem venceu foi o eleitorado brasileiro, a democracia brasileira, o pluralismo de forças, mesmo tendo sido uma eleição local, municipal,
sempre tida como expressão do conservadorismo.

Acrescento a essa avaliação um fato marcante que o Brasil mostra hoje com todas as cores: ao dar as costas para o dirigismo centralista, os comunistas e, por extensão, a população brasileira revelam a superação das amarras que caracterizaram nosso mundo político ao longo de quase
todo o século XX. Essas eleições de 2008 revelam, enfim, a libertação deste País emergente, libertação definitiva da dominação coronelista, policialesca; dominação que ainda hoje tenta desesperadamente controlar o voto secreto através do telefone celular. É risível.

Por que essa libertação democrática agora? Porque é nesse início do século XXI que vemos completar-se de modo definitivo a urbanização da sociedade brasileira, com uma grande presença dos meios de comunicação na casa de todos, sem medir distâncias. Essa urbanização – da qual escapam apenas as tribos indígenas isoladas na Amazônia – provocou e provoca mudanças no comportamento político. Vimos isso acontecer principalmente a partir da redemocratização nos anos de 1980.

As idéias, propostas políticas, discursos os mais variados foram colocados diante dos eleitores, agora habituados com o pluralismo e avessos ao pensamento único do coronel ou de quem quer que seja. A destruição do império eleitoral de ACM na Bahia é um caso emblemático citado pela Imprensa brasileira.

Comunistas como Luciano Siqueira de um lado, e chefes políticos useiros do cabresto, de outro, captaram essa mudança do perfil político brasileiro. Enquanto aqueles saúdam o novo horizonte como fruto da complexidade desta pátria, estes tentam neutralizar desde já futuras mudanças implantadas pela necessária reforma política.

Vamos ver se nosso País afirma a idade e a complexidade que tem e faz a República reafirmar este salto de qualidade dado nas urnas, ou cede novamente aos arranjos e arrumadinhos de ocasião entre as elites. O eleitorado, como notou Luciano Siqueira, deu o recado da nação em
2008, e não aceita a volta ao passado.
* Jornalista

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