16 novembro 2008

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Metade de mim*

Que a força do medo que tenho não me impeça
de ver o que anseio.
Que a morte de tudo que acredito não me tape
os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe seja linda,
ainda que triste.
Que a mulher que eu amo seja sempre amada,
mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida
e a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece
nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas como a única coisa
que resta a um homem inundado de sentimento.
Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.
Que a minha vontade de ir embora
se transforme na calma
e na paz que eu mereço,
que essa tensão que me corroe por dentro
seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que penso
e a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste,
que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
que me lembro ter dado na infância,
porque metade de mim é a lembrança do que fui
e a outra metade não sei.
Que não seja preciso mais que uma simples alegria
pra me fazer aquietar o espírito
e que o teu silêncio me fale cada vez mais
porque metade de mim é abrigo
mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
mesmo que ela não saiba
e que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
pra fazê-la florescer,
porque metade de mim é platéia
e a outra metade é a canção.
E que a minha loucura seja perdoada
porque metade de mim é amor
e a outra metade também.
* Enviada pela amiga Kátia

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