04 janeiro 2009

Os caminhos de Olinda

Jornal do Commercio:
"Olinda é um desafio maior do que o Recife"
O novo prefeito de Olinda, Renildo Calheiros (PCdoB), afirma que recebeu a cidade em melhores condições do que seus antecessores e se mostra ciente das cobranças. Assim como João da Costa no Recife, garante que terá "tranquilidade" de substituir quem não corresponder. No gabinete que vai despachar pelos próximos quatro anos, no Palácio dos Governadores, ele conta com a ajuda dos governos do Estado e da União para tirar as promessas do papel. Diferentemente do presidente Lula, ele avalia, nesta entrevista ao JC, concedida na última sexta, que a crise econômica não é uma "marolinha". E torce para que não prejudique seus planos.
JC - O senhor já disse que a prioridade inicial de sua gestão é manter a execução das obras que estão em andamento e organizar o Carnaval. Tem idéia de quantas são?
RENILDO - São muitas. Luciana (Santos, ex-prefeita), praticamente, transformou Olinda em um canteiro de obras. Não tem um lugar da cidade que a gente se desloque e não passe por uma. Vamos visitar e concluir todas. Tem outras ainda que não iniciaram, mas vão começar. São obras para as quais eu já consegui os recursos na União e outros até no governo do Estado. São obras que estão em processo de licitação ou em fase final de projeto e que nós pretendemos começar no primeiro semestre de 2009. Como temos um evento importante, que é o Carnaval, e ele acontece no mês de fevereiro, temos que tomar uma série de providências para que a gente tenha uma boa festa em Olinda. Isso vai merecer uma atenção especial.
JC - Dê um exemplo das obras que já estão programadas.
RENILDO - Temos uma obra do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento, do governo federal), grande, de R$ 72 milhões, que é a urbanização integrada de uma área importante de Peixinhos. Pega (as comunidades de) Jeriquiti, Azeitona, Cabo Gato, até Ponte Preta. O investimento é para fazer todo saneamento básico, abastecimento d'água. Serão construídas algumas moradias. As ruas serão calçadas. É uma obra que já tem recurso. Tem outra, também do PAC, em Vila Popular e Jardim Brasil.
JC - Essa que está projetada, da urbanização integrada, vai beneficiar quantas pessoas?
RENILDO - Não sei dizer quantas exatamente. Mas a obra que estamos fazendo na chamada bacia do Beberibe, que pega Ilha do Maruim, V-8, V-9, Vila Popular, Jardim Brasil, Caixa D'água, Passarinho, São Benedito, Caenga, e essas áreas de Peixinhos que eu já falei, serão 110 mil pessoas beneficiadas.
JC - De quanto precisa para terminar o que está em execução?
RENILDO - Boa parte já temos o recurso disponível. Mesmo os das ruas que estamos calçando. Mas os recursos não ficam na prefeitura. Ficam na Caixa (Econômica Federal). Os pagamentos são controlados pela Caixa. Muitas vezes esses pagamentos demoram mais do que o esperado, o que gera atraso na obra e até paralização. Não é pela falta de dinheiro, mas pela falta do pagamento, que está relacionado com as exigências da execução do projeto. É uma burocracia muito grande. E muitas vezes acaba atrasando o andamento.
JC - O Carnaval é no fim do próximo mês e o senhor já disse, quando tomou posse, que pretende estender a programação à noite. Já tem algumas modificações previstas?
RENILDO - O Carnaval de Olinda está muito bom. Mas acho que, na parte da noite, está acabando cedo. A idéia é aumentar um pouco a programação.
JC - Com shows em palcos da prefeitura, como no Recife?
RENILDO - Isso ainda vamos analisar, dentro da disponibilidade de recursos. Ainda estamos fechando o projeto deste ano, correndo atrás de patrocínio.
JC - No seu programa de governo, na parte das propostas para a área de infraestrutura, o senhor diz que pretende implantar o programa de calçamento de ruas e avenidas "mais ambicioso da história da cidade", mas não estabelece nenhum tipo de meta, nem diz quanto vai custar. Tem a exata idéia de até onde o senhor pode prometer?
RENILDO - Sempre que vou falar de metas, tomo o cuidado de só falar de obra depois que consigo viabilizar as condições para a realização. Só para se ter uma idéia, vamos, no primeiro semestre deste ano, iniciar o calçamento de várias ruas. Só em Cidade Tabajara, serão onze. O que chamo de grande projeto de calçamento de rua é articular diversas fontes de financiamento - recursos da União, do Estado, próprios - e canalizá-lo para um eficiente programa. Nos bairros de população de classe média, vamos entrar com muita força com o programa de parceria (privada). Esse é um dos problemas mais sentidos de Olinda, principalmente no inverno.
JC - No Recife, o novo prefeito João da Costa venceu com uma ampla coligação e, por isso, formou um secretariado com indicações políticas. Mas foi taxativo na cobrança por resultados. Disse até que, se fosse o caso, o partido poderia até mudar a indicação. O senhor também será tão rigoroso na busca de resultados?
RENILDO - Temos que ser. A responsabilidade é grande. Governar Olinda é diferente de governar o Recife. Olinda tem muitos problemas e uma arrecadação muito pequena. Aqui, o desafio é maior. Olinda é praticamente da mesma idade do Recife, tem história, força cultural, mas não tem indústrias. Gera pouco emprego. Arrecada pouco. Os problemas foram se acumulando, pois a cidade não tem dinheiro suficiente para investir em infraestrutura. Governar Olinda é um desafio maior do que governar qualquer outra cidade do País. Jaboatão tem problemas, mas tem dinheiro. Então, temos que ter uma equipe eficiente, arrojada, de pessoas motivadas e competentes. Na montagem do secretariado, levei em consideração isso. Montamos um secretariado de trabalho, de ação. É claro que fiz isso olhando pela janela da política, como acho que deve ser. Mas não vamos botar em nenhuma função técnica e administrativa pessoas que não tenham reconhecida capacidade técnica. Claro que escolhi esses secretários porque confio neles. Mas também tenho a tranquilidade de dizer que a área que não funcionar faremos a substituição.
JC - A reforma que a ex-prefeita Luciana Santos enviou à Câmara no mês passado aumenta a máquina, cria duas secretarias e reformula outras três. O projeto vai comprometer 1,5% da receita da cidade. A medida, acordada com o senhor, não vai na contramão do que os especialistas sugerem em época de crise?
RENILDO - Aqui em Olinda a situação é o contrário. Nós temos uma estrutura administrativa pequena, por causa da receita da cidade. Mas Olinda precisa de uma estrutura maior. Por exemplo, a conservação de ruas carece de mais gente e recurso. Se não tem sido feita é por dificuldade nos recursos. Mas reconhecemos que precisamos de mais gente. Na área de saúde, também precisamos de mais gente.
JC - Essa reforma o senhor avalia que vai tornar a máquina mais eficiente?
RENILDO - Criamos uma Controladoria. Acho que é necessário que todas as contas, contratos, iniciativas tenham uma análise rigorosa. É uma conquista administrativa. Criamos duas coordenadorias para ajudar na definição de políticas públicas. Uma é a do Idoso e a outra da Portadora de Deficiência Física. Criamos a Secretaria de Turismo pela força cultural e histórica. A economia da cidade hoje está muito ligada a isso. Criamos também a Secretaria de Esportes. Pretendo trabalhar muito com a juventude e relacionar isso com cidadania e segurança pública. Temos que disputar nosso jovem com o mundo do crime. Temos que dá alternativas. São iniciativas para fortalecer a administração.
JC - A participação popular, em seu governo, será por meio do Orçamento Participativo?
RENILDO - Na reforma administrativa, reforçamos o OP. Levamos para dentro da secretaria todo planejamento urbano e da questão do meio ambiente, para oferecer integração maior entre o que está sendo feito pelo OP e o planejamento que a cidade precisa ter. Agora, o nosso OP trabalha com recursos de parte da arrecadação do IPTU. Em Olinda, tudo aquilo que depende de recursos próprios tem suas limitações.
JC - Na Câmara Municipal, o senhor tem o apoio de todos os 17 vereadores. Esta falta de oposição, de crítica, não pode ser nociva à própria gestão?
RENILDO - Não tem governo sem oposição. Hoje, a oposição vem dos jornais, da rádio, da televisão, das personalidades políticas. A oposição está sempre presente na política. O fato de termos uma Câmara com base do governo forte é bom para a gestão. Ruim é ter confusão política exagerada, para não consumir parte da energia da gestão.
JC - Como deputado, o senhor tinha o papel de conseguir recursos, via emenda, para a cidade. Agora, quem vai ocupar este papel?
RENILDO - Tenho o compromisso com vários parlamentares da bancada de continuarem ajudando Olinda. Conversei com vários ministros, com o presidente Lula, o governador Eduardo Campos. Eles têm para com Olinda uma boa vontade muito grande. Olinda deve estar para Pernambuco e o Brasil como Portugal está para a Europa. Quando a Europa resolveu criar uma moeda única, também compreendeu que precisava ajudar Portugal, que tinha problemas graves. JC - O senhor já disse que é o prefeito de Olinda quem recebe a cidade em melhores condições. Acha que vai ser mais cobrado do que Luciana?
RENILDO - A Luciana fez uma obra monumental. Recebo a cidade com as contas em dia, salário em dia, com obras em andamento e planejadas. tenho pela frente um desafio grande: manter o padrão que ela estabeleceu e, quem sabe, fazer um pouco mais. Quando a população vê as coisas acontecendo, cobra mais. E eu estou preparado.
JC - Fica evidente que o senhor conta com a ajuda do Estado e da União para fazer um bom governo. Essa crise pode ser uma pedra no caminho e atrapalhar seus planos?
RENILDO - A crise é um grande problema para nós. Como a gente depende muito de transferências, se o Estado e a União viverem dificuldades, isso irá repercutir drasticamente em Olinda. Em novembro, a arrecadação do governo federal caiu 19%. É um dado preocupante em uma arrecadação que crescia mês a mês. A crise é um grande problema para nós e estamos todos encangados como numa corda de caranguejo.
JC - Não é uma marolinha...
RENILDO - A crise é muito forte e quebrou a economia dos Estados Unidos. É claro que o presidente Lula tem um discurso otimista, como deve ser. A economia brasileira está equilibrada e não é nossa, mas nos atinge. A oposição não quer o Brasil num período de tranquilidade. Precisa turvar a água.

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