22 fevereiro 2009

Maestro Fernando Borges vive

O "Galo da Madrugada”, para mim, é saudade!
Marieta Borges*

A manhã ensolarada convida ao frevo a multidão que segue o GALO DA MADRUGADA, pelo centro do Recife... Como sempre, alegorias enfeitam essa cidade de rios e de pontes. Gente fantasiada, irreverente e criativa por todos os lados. O frevo “rasga” os espaços lotados. Aqui e ali outros ritmos pernambucanos abrem lugar para mostrar a diversidade desse carnaval bonito e diferenciado de todos os outros estados do Brasil. Carros alegóricos e trios elétricos se sucedem, todos compromissados em executar apenas a música plena de riqueza desse Pernambuco de tantas nuances musicais...

De longe, olho a multidão e escuto seu “grito de guerra”: “Ei, pessoal! Vem, moçada! Carnaval começa no Galo da Madrugada”... E esse refrão aumenta a minha saudade de outros carnavais, quando um enorme palco fechava a Ponte da Boa Vista, para esperar que o Galo chegasse... Era ali, naquele espaço privilegiado, que pontificava o talento, a animação e o virtuosismo do Maestro FERNANDO BORGES, que por horas e horas mantinha aceso o ardor da multidão que o rodeava.

Era um deslumbramento! Todo aquele povo dançava e cantava junto com ele! Para a frente, toda a Avenida Guararapes... Para os lados, toda a Rua do Sol, beirando o Rio Capibaribe... Para trás, toda a Avenida Conde da Boa Vista e a Rua da Aurora, essa também cortejando o rio... Horas de frevo genuíno, de canções fora-de-época, adaptadas para o alucinante ritmo pernambucano.

Fernando Borges era soberano naquele palco! Sua alegria, sua resistência, sua capacidade de animar e fazer pular todo o enorme público que lotava o centro recifense, tornava a espera uma delícia, até que o cortejo chegasse e ele cedesse ao “Galo” o direito de conduzir o povão a partir da Praça Joaquim Nabuco.

Já se passaram dez anos desse carnaval, que esperava o “Galo da Madrugada” chegar ao centro do Recife, mantendo a chama de força e da animação, para continuar com os trios depois que o “Esperando o Galo” silenciava.

Até o dia que o Maestro calou-se para sempre! Até o dia em que o Carnaval perdeu o seu maestro, agora reconhecidamente patrono da Escola Municipal de Frevo, que leva o seu nome e cultua a sua memória.

Hoje, um galo de proporções gigantesca enfeita a mesma ponte que fez o delírio de tantos. O maestro de muitos carnavais foi substituído por outros artistas, cada um dando o melhor do seu talento para manter viva a tradição carnavalescas que tanto nos honra.

Para mim, admiradora de todo esse passado, o “Galo da Madrugada” é também a lembrança do meu irmão, do meu ídolo, do meu Maestro FERNANDO BORGES, que deve – com certeza – “estar fazendo Carnaval no céu”, como cantou o compositor Getulio Cavalcanti...

Para mim, o Galo da Madrugada é, principalmente, saudade!
________
* Educadora, poeta, historiadora e pesquisadora. Autora de "“Fernando de Noronha: Cinco Séculos de História”.

Nenhum comentário: