28 janeiro 2010

Coluna semanal no portal Vermelho

Tapioca: ciência e arte
Luciano Siqueira


Com movimentos ágeis põe o queijo, dobra a massa, enrola numa folha de bananeira e a oferece ao freguês: - Pronto, doutor, está no ponto. E não é para me gabar não, mas duvido quem faça melhor.

A tapioqueira parece se orgulhar do que faz, com destreza e esmero. Que nem um ourives a lapidar uma pedra preciosa.

A gente saboreia a tapioca – uma delícia! – aceitando aquelas palavras como uma lição. Importa, sim, realizar cada tarefa cotidiana com cuidado. Que nem o ourives – ou a tapioqueira ciosa do seu ofício. A gente aprende durante o trivial ato de comer tapioca no Alto da Sé, em Olinda.

Pena que nem todos os comensais se dão conta disso, a maioria com aquele jeitão de turista apressado, que chega, olha em torno, consulta o guia, confere as referências da igreja e a fotografa – na mais das vezes não é bem a igreja o objeto da foto, mas os filhos, o pai, a mãe ou o casal. Para ter o prazer de chegar das férias e dizer: “tá vendo a gente aqui, por trás tem uma igreja e, não dá para ver direito, mas fizemos a foto em Olinda”.

Para eles, os turistas, experimentar a tapioca é quase uma obrigação – está no guia 4 Rodas. Nem procuram saber ao certo o que estão mastigando, muito menos se dão conta de que são servidos por uma artista – a tapioqueira -, digna representante de nossa cultura. Isso mesmo. A tapioca é coisa nossa, invenção indígena, feita com a goma da mandioca que, espalhada numa frigideira, vira uma massa tipo panqueca, arredondada, recheada com coco (ou com queijo ou que o freguês preferir).

Tapioca bem feita é produto de verdadeiro ritual, misto de ciência e arte. Não é pra qualquer um (ou uma). Como uma relação de amor, pede jeito, dengo, habilidade e impulso criativo; e se renova com o olhar, a palavra e o gesto.

Rendamos homenagem à tapioqueira. E saibamos saborear a tapioca, com ou sem recheio além do coco; com um café quente ou suco de frutas, a depender do estado de espírito do momento. Com licor também serve, ou com uma boa cachaça. Porque tapioca é um afago ao paladar e um modo de viver.

Se tem dúvida, vá ao Alto da Sé e experimente.

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