16 fevereiro 2010

Painel de comentários sobre a minha crônica “Em Ponta Negra no bar da Rua Chile”

No intervalo de meus afazeres, com miolos aquecidos pela constante labuta, pude deparar-me com o seu texto. Já conheço seu estilo descritivo de redação, e confesso-me seu admirador. Contudo, a riqueza de detalhes deste último compêndio me fez refletir. As vezes, em minhas divagações sobre a paternidade, tenho medo de ter filhos ou duvido de minha capacidade de criá-los. Em suas linhas, vejo e comprovo por experiência própria, que a paternidade esta na essência de cada um de nós. Quando eu era menino, no interior, ia com o meu pai à feira da cidade e, depois de vender todas as laranjas, plantadas por mim, ele e meus irmãos, íamos ao mercado público. Lá, eu comia farinha, com molho de bode guisado, enquanto meu pai comprava passarinhos e tomava um trago de sua cachaça predileta. Até hoje, sinto o gosto da farinha, o cheiro das carnes, o barulho das pessoas no comércio. Ainda tenho o meu velho pai para contar histórias do passado no sítio, mas nem ele, nem eu e nem o antigo mercado são os mesmos. Sendo assim, lhe agradeço pelo texto, pois por um breve momento eu estive novamente na minha pequena cidade, protegido pelo meu pai, forte e robusto como o seu, e pude sentir-me renovado para mais um dia de batalha. (Jofre Melo).

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Que bom ter recordações tão agradáveis com uma pessoa tão querida, especialmente, quando essa pessoa é o nosso pai. Sinto não poder ter vivenciado essas mesmas experiências, pois perdi o meu pai tinha apenas um ano de idade. São coisas da vida! Outra coisa, recebi o livro de crônicas na segunda-feira da semana passada. Agradeço a gentileza. Ele é muito bonito e a dedicatória muito singela. Li a crônica Arraes e o PCdoB e achei muito sábia a mediação do cordato Ximenes. (Waldenice Pereira).
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Tenho ótimas recordações com meu pai na praia, como você. Boa Viagem, Pina,praia de Tambaú e Manaira não são mais as mesmas sem papai e sua alegria de brincar conosco. Também vago por elas em busca de fragmentos para colar, mas está tudo só aqui em minha mente PENTAX.

Uma vez, poucos meses antes dele falecer, ele estava no hospital,e já não falava mais. E eu estava na praia de Boa Viagem caminhando, num domingo de manhã, antes de ir para o hospital revezar com mamãe. Eu ouvi um chamado dele, gritou meu nome alto, como quando tínhamos que ir embora, para eu sair da água. Acho que ele cochilou e seu espírito veio até Boa Viagem, onde morou a maior parte de sua vida.Procurei e não vi nenhum pai gritando para filha. Acho que só eu ouvi o "Cristinaaaaaa...". Papai viveu mais que seu pai - nos deixou em 25 de março de 2006 após quase 6 anos de doença degenerativa. Contava quase 81 anos. Quis fazer o que recomenda esse pps, mas mamãe é muito possessiva. Aproveitou a doença para 'ter a posse' de papai, coisa que nunca teve em vida. Papai foi piloto, tinha o espírito livre. Eu quis colocá-lo num carro ou taxi e sair por ai, visitar o hangar das pequenas aeronaves do Aeroporto, o Aeroclube, Casa Forte e Monteiro onde ele passou a infância.Passeios que fazíamos com frequencia quando ele estava lúcido e podia manifestar sua vontade, e ela me impediu. Herdei dele o gosto por fotografar, simplesmente, sem técnica, apenas para registrar os momentos todos, o máximo possível. Mamãe também me negou o acesso às fotos dele, muitas, só meu irmão pegou. Um dia, se for merecimento meu, tudo vem para minhas mãos. O Universo é sábio e a força dele é justa. Somos 5 filhos, uma de minhas irmãs nasceu depois de 66, ano dessa foto, em Boa Viagem. Somos 4 mulheres e um homem. Mamãe não lidou bem com tanta mulher dividindo a atenção do marido dela, as filhas. Chegou a proibir qualquer contato de papai com a filha do primeiro casamento que mora em SP. Uma lástima. Mamãe mora no mesmo edifício, o Nápoles. Eu não a visito mais - nos encontramos pela casa de meus irmãos. Ela quer o lugar de papai. Mas era dele. Agradeço a Malta, que enviou, e ao criador do pps. É uma bela maneira de lembrar de nossos pais que já partiram. Papai foi outro diagnóstico, mas com sintomas de degeneração muito parecidos com Alzheimer, que o silenciaram nos últimos anos. Rogo a Deus que nossos filhos, familiares e amigos tomem ciência desse testamento enquanto estamos lúcidos e felizes. E que Deus ajude eles a cumprir nossa vontade manifestada. Amém. (Só completando - Foi com ele que aprendi a gostar de Malzebier,até hoje tomo.Mas já escolho as menos doces como Xingu e Caracu.

Também nos iniciou no vinho pela sangria, para desgosto de mamãe, que nem bebe nem fuma e ainda enche a paciência fazendo preleções contra o álcool e seus efeitos. Ela devia se converter a alguma religião mais radical que a católica, a Assembléia de Deus por exemplo). (Cristina Henriques, com saudades de papai).
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Compartilhamos desse momento em que você volta a sua infância e, de certo modo, nos toca profundamente em nosso existir, uma vez que o prazer de estar com o nosso pai e mãe, participando das suas atividades, sejam elas: trabalho ou lazer, faz de nós, filhos, seguirmos a vida, tendo a figura dos pais como exemplo, como referência. Portanto, seu artigo traz à tona a importância da estrutura familiar para uma sociedade mais justa e igualitária. A família brasileira deve ser não apenas resgatada, mas necessariamente reestruturada de maneira equilibrada, pois são as famílias que formam a sociedade civil consolidada e, por conseguinte, desta é formada as estruturas políticas e jurídicas do Estado de Direito. (Josias Barbosa Lima).
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Parabéns pela matéria Em Ponta Negra e no Bar da Rua Chile. Fazendo referência ao lanche: pão creoulo torrado com leite de coco, trazido de casa, e refrigerante. Uma delicia! Sim, Dr. Luciano, quando íamos passear com nosso querido pai levava nosso lanche de casa. Diferente das crianças de hoje que são totalmente consumistas. O senhor também faz referência a seu pai que era um funcionário público querido por todos os seus colegas de repartição. Tanto o teu pai como o meu deixaram o brilho de sua estrela aqui na terra. Sua estrela com certeza continua a brilhar aonde quer que eles estejam. Que pena que perdeste teu querido pai quando tinhas apenas 11anos. Quanto a mim fui mais feliz pois tive meu grande pai ao meu lado até minha idade adulta. O mesmo partiu há 8 anos. Mesmo adultos ficar órfãos é muito doloroso. Mas a vida é isso. Cumprimos nossa missão e partimos. A Vida e a Morte são Irmãs. (Iracema Vila Nova).
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Essa sensação de não termos dito às pessoas o quanto as amamos no tempo em que estavam conosco é comum a todos que perderam seus entes queridos ou estão longe de alguém. Eu perdi minha mãe aos 16 e sei o que é isso muito bem... ainda hoje eu choro e sinto a imensa falta que ela me faz... mas se te serve de consolo, Luciano... eles sabiam... eles viam o amor e a felicidade brilhando em cada gesto, em cada sorriso... viam o amor deles por nós refletido nos olhos da gente... abraços... Tudo de bom. (Gorete Oliveira).

Um comentário:

INácio Carvalho disse...

Meu caro Luciano, esse seu texto mexeu mesmo com a emoção e as lembranças de muita gente. Também guardo aqui na minha alma muitas lembraças de minha infância no interior do Ceará - se é que podemos chamar a metrópole Sobral de interior, porque pro nosso bairrismo isso é pouco demais, mas ela tá no nosso interior, aquele que fala mais alto em nossas vidas. Com tanta força suas lembranças foram parar no Blog do Carvalho, onde registro ideias, opinões e relatos. Lá ele recebeu um cometário sintético, mas muito significativo.

Se quiser dar uma espiada por lá o link é este:
http://carvalhorobles.blogspot.com/2010/01/pai-e-bom-demais.html

Lá falo de uma carta de meu pai que também merece sua leitura.
http://carvalhorobles.blogspot.com/2009/10/uma-riqueza-do-meu-grande-pai.html

Um forte abraço.