13 abril 2010

Meu artigo semanal no site da Revista Algomais

O fato, a versão e o jogo baixo
Luciano Siqueira

Estava lá e vi. Quem quiser poderá confirmar em vídeo. O presidente Lula não atacou, nem de longe, o Judiciário em seu pronunciamento no ato público realizado pelo PCdoB em apoio à pré-candidatura da ex-ministra Dilma Roussef à presidência da República, na última quinta feira, em Brasília.

Num dado trecho do seu discurso, Lula fez referência à necessidade de um entendimento entre os partidos para que se concretize uma reforma política que reforce o processo democrático em curso no País e estabeleça regras consistentes e duradouras. “Para que a cada eleição os partidos não tenham que perguntar a um juiz o que podem e o que não podem fazer”, argumentou.

Querer extrair daí um conflito entre o presidente da República e as instituições judiciárias não passa de factóide de péssimo gosto e nenhuma criatividade.

Entretanto, o Jornal Nacional da Rede Globo – como de costume – divulgou apenas uma breve passagem desse discurso do presidente, cuidadosamente editado para dar a impressão de palavras ofensivas ao Poder Judiciário. O suficiente para uma onda de declarações de autoridades que se dizem ofendidas, inclusive o presidente nacional da OAB, e uma enxurrada de comentários críticos ao suposto comportamento inadequado de Lula. Começa com os grandes jornais de circulação nacional e se repete, em cascata, pelos órgãos locais de imprensa Brasil afora, incluindo dóceis colunistas que sequer procuraram apurar a verdade dos fatos.

Ora, qualquer leitor (telespectador, ouvinte, internauta...) minimamente atento identificará nesse expediente o velho artifício de distorcer e de tergiversar o sentido do que o ocorre ou do que se diz com intenções políticas evidentes. No caso, a tomada de posição em favor de um dos lados na peleja eleitoral de outubro.

Duas outras conclusões óbvias. Uma: a batalha eleitoral está em curso, e não é de agora. A grande mídia em suas diversas modalidades já escolheu a quem apoiar a realiza campanha cotidiana e sistemática em função disso. Com uma pauta única e manifestações orquestradas, às vistas do TSE. E os contraventores nesse caso posam de vestais – para enganar a quem?

A outra conclusão: urge, sim, a adoção de normas e mecanismos destinados a assegurar um comportamento minimamente honesto (já não digo imparcial) dos meios de comunicação, em respeito ao cidadão e ao eleitor que tem entre seus direitos fundamentais o do acesso à informação multilateral e de qualidade. O que implica na luta pela democratização da mídia, que dá passos importantes na esteira da Primeira Conferência Nacional sobre o tema, recentemente realizada.

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