10 maio 2010

Meu artigo semanal no site da revista Algomais

Teoria e prática em tempo de guerra
Luciano Siqueira


No último sábado, em São Paulo, participei do seminário Pensar Lênin: aspectos contemporâneos de sua teoria, promovido pela Fundação Maurício Grabois. Um debate rico e atual, a partir de intervenções altamente qualificadas.

O professor português José Barata-Moura, ex-reitor da Universidade de Lisboa, abordou o legado filosófico de Lênin. Luis Fernandes, professor de relações internacionais na PUC-RJ e Aloisio Teixeira, economista, reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, trataram dos complexos problemas da economia e da geopolítica mundial. João Quartim de Moraes, professor titular de Filosofia da Unicamp discorreu sobre os impactos das transformações sociopolíticas no século XX e Renato Rabelo, presidente nacional do PCdoB, discutiu a estratégia ao socialismo, ensinamentos e perspectivas.

Por que faço o registro neste espaço semanal que a Algomais me concede? Porque me parece relevante que em plena fase preparatória das eleições gerais de outubro, quase duas centenas de quadros partidários e ativistas de várias partes do país se dediquem a debate teórico de tamanha envergadura. Não é muito comum, infelizmente, no Brasil, se articular teoria e prática como fundamento da atividade política cotidiana – em especial em tempo de guerra eleitoral.

O comum é a dicotomia entre gente dedicada a pensar e gente dedicada a agir. E daí se gerar não raro formulações teóricas excessivamente abstratas, dissociadas da realidade concreta, e, portanto estéreis; e, na outra ponta, um ativismo desmedido que certa vez o revolucionário russo que inspirou o seminário chamou de “praticismo cretino”.

Ora, quando se faz da luta política nas suas diversas dimensões – entre as quais a peleja eleitoral – instrumento de mudanças reais na sociedade, há que se dotar o impulso combativo de um lastro científico e técnico consistente. Sobretudo nos dias que correm, em que no mundo e no País se processam cenários complexos e é necessário ir mais a fundo na consideração dos fatos e fenômenos em curso. E isto não se consegue de afogadilho, nem tampouco a base de um conhecimento meramente superficial ou tomando de empréstimo assertivas advindas da academia, por mais embasadas cientificamente que sejam. Isto é válido não apenas para militantes marxistas, mas igualmente para todos os que, no Brasil, identificam na quadra atual a possibilidade efetiva de um novo projeto nacional de desenvolvimento, que afirme a nacionalidade, amplie a democracia e as conquistas sociais.

Diria também que para os que atuam cá na província, e que observam importantes transformações no perfil da sociedade pernambucana na esteira das mudanças de sua base produtiva a partir dos grande empreendimentos industriais sediados em Suape, ir além da superfície e compreender em profundidade o que se passa impõe-se como necessidade e dever.

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