23 junho 2010

Recordações da minha primeira Copa do Mundo

Copa do Mundo na Lagoa Seca
Luciano Siqueira

Publicado simultaneamente no portal Vermelho, no Blog de Jamildo (JC Online) e no Jornal da Besta Fubana

Foi em 1954, bairro da Lagoa Seca, Natal, RN, a minha primeira Copa do Mundo. Quase nada entendia de futebol. Mas aquela movimentação toda despertou no garoto de apenas oito anos sentimentos nunca antes experimentados.

O som alto, num dos postes perto de minha casa (creio que o mesmo som que anunciava os filmes a serem exibidos no Cine São João), as bandeirinhas verde-amarelas ornamentando a rua. Antes de iniciada a partida, transmitida “pelas potentes ondas do rádio” desde a Suíça, se repetia à exaustão “Esse jogo não é um a um Se meu clube perder é zum, zum, zum”, na voz de Jackson do Pandeiro.

Não retive na memória nada dessas transmissões. Guardei, sim, as imagens do entusiasmo geral, a gritaria a cada um dos cinco gols marcados na estréia contra o México. Do empate com a Iugoslávia não ficou lembrança. Mas da derrota para a Hungria, o melhor time daquela Copa, pelo elástico placar de 4 x 2, sim. As pessoas chamavam o juiz de ladrão, naturalmente influenciadas pelo que dizia o narrador. Posteriormente, em jornais e revistas colecionadas por meu irmão mais velho, lembro de fotos do lateral esquerdo Nilton Santos contido por seus companheiros, inconformado com a arbitragem. Se tinha razão ou não, confesso que nunca me interessou pesquisar.

O fato é daí em diante o futebol entrou em minha vida. O gosto pelo “barra a barra” com bola de meia. A pelada improvisada na rua. A simpatia pelo Vitória, um dos times do bairro. E a paixão pelo América, principal adversário do ABC em inesquecíveis pelejas no velho Estádio Juvenal Lamartine.

A rivalidade entre América e ABC tinha seus reflexos dentro de casa, pondo em pólos opostos a avó Neném e os filhos homens de seu Renato. Vovó rezava em voz alta para que o ABC saísse vitorioso, o que considerávamos uma provocação. Íamos à forra sempre o placar nos favorecia, como num memorável cinco a zero.

Segue a vida, há tanto em que pensar e o que fazer que o espaço da emoção com o futebol foi gradativamente diminuindo. Hoje o América Futebol Clube converteu-se em longínqua recordação, o Clube Náutico Capibaribe que adotei ao me transferir para o Recife já não me tem como torcedor atento e mesmo o heróico escrete canarinho – confesso a fragilidade do meu patriotismo futebolístico – só me envolve no curto tempo dos noventa minutos regulamentares de cada partida. Selado o resultado, de pronto cuido de outra coisa, que a vida é curta, o sonho é imenso e tenho mais o que fazer.

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