16 setembro 2010

Minha coluna semanal no portal Vermelho

Um clássico do marxismo e as eleições gerais

Luciano Siqueira


Escrevi sobre isso aqui no Vermelho, num dos recentes momentos eleitorais. A utilidade da leitura do 18 Brumário de Luís Bonaparte, a primeira análise de uma situação política determinada (a da França) escrita à luz do materialismo histórico, justamente pelo seu fundador teórico, Karl Marx, entre dezembro de 1851 a março de 1852.


Passados mais de 150 anos, a obra continua atual e necessária a marxistas e a não marxistas - para que compreendam que o processo político não se dá tão somente a base da vontade subjetiva dos atores envolvidos. Há variáveis outras, de ordem objetiva, em certa medida determinantes do comportamento subjetivo deste ou daquele líder, e mesmo dos partidos políticos, relacionadas com os interesses de classe ou de segmentos de classe em presença.


Por isso a política não é um simples jogo de damas; é de xadrez, mais complexo. Via de regra não basta a uma determinada corrente política ter força acumulada, é preciso que tenha também juízo para exercer essa força – e exercê-la pelo convencimento, pela conquista de adesões conscientes; para que adiante, uma vez instalada a luta aberta, possa reunir descortino, vontade e emoção, ingredientes indispensáveis à conquista da vitória.


Por aí se entende os muitos exemplos em que uma corrente menos robusta logra êxito na aglutinação de aliados partidários e sociais o suficiente para virar o jogo. Daí se dizer, após o desenlace da peleja, que o resultado final foi surpreendente. É que o inesperado brota dessa coisa fascinante que conjuga a um só tempo ciência e arte, que é a tática política. A ascensão de Lula à presidência da República é um extraordinário exemplo.


O comentário feito há tempo, que agora reproduzo, novamente é oportuno diante do desenho dessa reta final das eleições gerais em curso. Pois tanto na sucessão presidencial como nos pleitos proporcionais e majoritários estaduais, a grande mídia e a direita teimam em tergiversar no debate político, evitando as questões centrais e programáticas e dando ênfase excessiva ao que consideram atributos pessoais dos candidatos – nem sempre verdadeiros -, ao que se acrescenta um denuncismo estéril e sem fundamento.


Na prática se deseja permanecer na superfície e escamotear os verdadeiros interesses de classe que se põem na base de cada candidatura. Porque é o que ocorre, na essência de cada coligação partidária, por mais ampla e diversificada que seja. Em todas há um núcleo programático, explícito ou implícito, associado à principal base de sustentação de cada candidatura. Ou não é o que acontece com as candidaturas de Serra e Dilma? A diferença é Dilma quer deixar as coisas claras e Serra se faz de camaleão.

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