11 julho 2011

Entre a oficina e o consultório médico

Carro pra que te quero?
Luciano Siqueira

Publicado no Jornal da Besta Fubana

Todos nós conhecemos aquele tipo que concentra todas os seus desejos no carro do ano, mesmo sem o poder aquisitivo para tanto, que trata a sua fubica com mais carinho do que à mulher amada. A comparação não é feliz, mas é a crua realidade. Tanto que jingles nas rádios e comerciais na TV reforçam essa atitude, digamos, rebaixada do ser humano envolto na areia movediça da sociedade de consumo.

Isso acontece aqui e em toda parte. Nos EUA, por exemplo, foi divulgada uma pesquisa patrocinada pela da Rede de Saúde do Homem e pela Abott, que revela que a maioria dos homens considera mais fácil cuidar do carro do que da própria saúde. Nada menos do que 70% dos 501 homens entre 45-65 anos entrevistados pensam assim.

Aí a gente fica sem saber se o problema é de descaso com a própria saúde ou de amor excessivo ao objeto de consumo. Na dúvida, crave nas duas alternativas.

A segunda é até compreensível, no caso dos homens norte-americanos, onde tudo se consome sem o crivo da necessidade básica, às custas do resto do mundo. Pelo menos a população incluída no mercado, tirante os mais de 30 milhões de excluídos (segundo se divulga).

Mas não cuidar da saúde é coisa de gente pouco esclarecida, não é mesmo? Aliás, não é a primeira vez que me dou conta de que a tal “população culta e educada” que frequenta o imaginário de nós outros periféricos nem sempre corresponde à realidade. Quando vice-prefeito do Recife, participei ao lado do prefeito João Paulo e do nosso secretário de Saneamento, Antonio Miranda, de uma conversa com técnicos alemães que nos apresentaram tecnologias avançadas na revitalização de recursos hídricos. A certa altura, um deles, após explicar como haviam recuperado o rio Reno da poluição, arrematou: “Mas foi necessário um imenso esforço de educação ambiental junto à população!”

Epa! Então a população alemã não havia até então assimilado a necessidade de preservar o ambiente?

De outra feita, em Paris, fotografei (e guardo em meu arquivo pessoal) a Praça Pigale, nas proximidades do Moulin Rouge, absolutamente enfestada de lixo – isso a umas 4 da tarde! Sinal de que para os franceses nem sempre cabe o rótulo de população “esclarecida”.

Por isso esse caso dos americanos que cuidam mais dos seus carros do que de si mesmo já não me surpreende tanto. Nem aos próprios – ou seja, às autoridades da área da saúde. Daí deflagrarem uma campanha com o objetivo de aumentar o conhecimento sobre as questões relacionadas à saúde do homem, incentivando exames periódicos para checar regulamente testículos, próstata, colesterol, testosterona e pressão arterial.

Bem que o slogan da campanha podia ser “O caminho da oficina passa pelo consultório médico”.

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