31 agosto 2011

Debater é preciso. Em busca da praxis consequente

Pedra, cal & ideias
Luciano Siqueira


É próprio de duas situações extremas: na crise ou no crescimento, toda sociedade que se vê diante de uma onda de riscos e ameaças ou de oportunidades e novos desafios é instada a repensar-se a si mesma – numa busca coletiva, plenamente consciente ou não, de uma práxis consequente. Para mudar, avançar, criar e desenvolver; ou para impedir a alteração do status quo, conforme o posicionamento dos atores envolvidos.

Nos últimos dias tive a oportunidade de viver dois momentos impares de reflexão sobre a realidade imediata e em perspectiva. Em Natal, num seminário proposto pelo vereador George Câmara (PCdoB) e encampado pelo Parlamento Comum Metropolitano, centrado no debate acerca do Estatuto da Cidade vis a vis desafios de uma metrópole em formação. Como questão de fundo, a necessidade imperiosa de uma reforma urbana que dê conta do ideal de uma cidade física, econômica e ambientalmente sustentável e socialmente justa.

No Recife, na abertura do empreendimento Debate Aberto, promovido pelo meu gabinete parlamentar na Assembleia Legislativa em cooperação com a Fundação Maurício Grabois, que discutiu o atual ciclo de desenvolvimento em Pernambuco e os desafios de sua sustentabilidade, tendo como expositora a economista Tânia Bacelar.

Em ambos, de modo subjacente às questões centrais dos temas propostos, toda uma gama de conceitos teóricos e políticos, de observações de natureza técnica e tática – e também ideológica – que, além de emoldurar os debates permitindo aos participantes perceberem a sua real dimensão, indicam desdobramentos igualmente relevantes.

Cabe discutir aqui muitos dos pontos abordados nos dois debates – o que pretendo fazer em semanas próximas. Por agora, cumpre sublinhar justamente a emergência da luta de ideias em meio às realizações econômicas e suas implicações sociais. Nada está definitivamente resolvido. Muito há que questionar no sentido de impulsionar as transformações em andamento – caso de Pernambuco, que vive mudança radical em sua matriz produtiva; caso de Natal, cidade polo de um aglomerado urbano em expansão, prenhe de mutações territoriais, demográficas e econômicas. Indo mais a fundo, entretanto.

Qual desenvolvimento? Como gerir o território tendo em conta o conflito entre o capital em suas diversificadas formas e os interesses da maioria que subsiste do próprio trabalho? Como prevenir entraves que, uma vez instalados, tornam-se difíceis de remover? Qual o papel do Estado, dos partidos e do movimento social?

Coincidentemente os dois eventos têm a participação decisiva de gabinetes parlamentares – o que por si mesmo já reflete uma consciência aguda de que o papel do ocupante do parlamento implica necessariamente a promoção da reflexão criteriosa sobre os acontecimentos em curso, em contraposição direta ao pragmatismo estéril que, ainda que possa produzir resultados imediatos, em perspectiva nada acrescenta.

Em tempo de sofisticação das forças produtivas, “pedra e cal” não resume obviamente toda a amplitude do que ocorre na base material da sociedade; mas se lhe acrescentamos “ideias”, bem que traduz a irrecusável combinação da teoria com a prática na ação cotidiana.

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