27 setembro 2011

Uma importante questão tática

Flexibilidade nas alianças e realidade concreta
Luciano Siqueira

Para o Blog da Folha

Ninguém pode ser mais radical do que a realidade – na vida cotidiana, na política principalmente. E a realidade concreta reclama dos que pretendem ter uma prática consequente um misto de firmeza de propósitos e flexibilidade nas alianças em contraposição à soberba e ao isolamento que a nada levam.

Essa assertiva está longe de significar falta de rumo ou de compromisso. Antes representa o reconhecimento da realidade como ela é – e não como seria desejável que fosse. E a realidade é plena de partidos – no Brasil são vinte e sete – que, pouco afeitos a programas e ainda insipientes em sua inserção social, ganham conformação distinta de estado a estado e, sobretudo, de município a município. Nem sempre uma legenda que se posiciona à esquerda numa determinada cidade, tem a mesma postura na cidade vizinha. Assim como entre uma eleição e outra frequentemente não guardam linha de continuidade em matéria de posição política. Daí porque enquadrá-las segundo rótulo definitivo não cabe, a não ser como mera abstração.

Além disso, há duas variáveis decisivas na abordagem da situação política tendo em vista a conformação de alianças entre partidos, por exemplo, na disputa de prefeituras ano que vem: a plataforma e o nível de compreensão política do eleitorado.

Plataforma (ou programa de governo) reúne o conjunto das propostas que um ou mais partidos colocam à mesa de debates em busca de apoios de seus pares. É a proposta possível, nas circunstâncias, e não exatamente o programa do partido. Programa de frente é diferente de programa de partido – aqui e em qualquer parte do mundo. Traduz um pacto entre partidos para o enfrentamento dos problemas que se considera sejam os cruciais na conjuntura, e que devam ser arrostados pelo governo que se pretende construir a partir da vitória nas urnas.

O nível de consciência do eleitorado dá a medida da amplitude das alianças necessárias. Plataforma mais avançadas ou menos avançadas precisam antes de tudo ser compreensíveis e ganhar o apoio da maioria, sem o que a vitória não se concretiza.

Há casos em que esses fatores se somam e determinado partido, que em plano nacional assume perfil conservador, num determinado município tem em suas fileiras lideranças progressistas, comprometidas com a luta para solucionar os entraves ao desenvolvimento econômico e social e reconhecidas como tal por expressiva parcela do eleitorado.

Ora, num cenário municipal assim furta-cor, a postura política correta de um partido de esquerda deve se escoimar de qualquer visão esquemática, mecanicista e sectária. Sob pena de isolamento e fracasso eleitoral.

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