21 outubro 2011

Cada coisa é uma coisa nas frentes partidárias

Ideologia, política e alianças partidárias
Luciano Siqueira


Frequentemente surgem críticas às coalizões partidárias, acusando-as de carecerem de unidade ideológica. Sobretudo quando se trata de amplas coalizões, como as que dão hoje sustentação ao governo Dilma Rousseff, em plano federal, e ao governo Eduardo Campos, cá na província.

Não procede. Unidade ideológica entre partidos políticos é impossível. Do contrário, não haveria diversidade no espectro partidário, mas apenas um partido. Ideologia se refere à concepção de mundo, a um ponto de vista de classe na abordagem da realidade econômica, social, cultural, política. É o lastro do fundamento teórico de um partido político, esteja isso explícito ou de certo modo velado.

Programas partidários se assentam em sua visão de mundo e em determinada compreensão da sociedade, que se pretende transformar ou conservar, conforme a orientação do partido.

Partidos mantêm seus distintos programas e ao mesmo tempo podem concertar alianças em torno de objetivos táticos, de curto e médio prazo. Alianças estão na esfera da política, e não da ideologia.

Daí porque partidos formalmente tão díspares eventualmente se congregam em torno de uma plataforma de governo – dezoito agremiações, no caso da base de apoio ao governo Dilma Rousseff. O que une neste instante da vida brasileira é o rumo do desenvolvimento do País, ressalvadas divergências, em muitos aspectos importantes, no seio da coalizão governista.

A ampla coalizão faz-se necessária para a governabilidade e para o alargamento da base social de apoio ao governo. Não supera discrepâncias sobre questões de fundo, como por exemplo, a gestão macroeconômica. Nem todos os partidos governistas concordam que se deva optar pelo câmbio subvalorizado, a redução substancial da taxa básica de juros e o controle do fluxo externo de capitais como mecanismos de destravamento do crescimento econômico. Alguns ainda resistem a essas medidas, apegados parcialmente aos interesses dos setores rentistas. Daí a unidade e a luta conviverem democraticamente como duas faces da coalizão.

Assim se dá em nosso País, onde são muitos os partidos presentes na cena política e onde ainda é pouco consistente a feição programática das diversas correntes políticas. Futuramente, com o aprimoramento do processo democrático em curso, e se houver uma reforma política que foque a atenção do eleitor em programas partidários e não principalmente em indivíduos, certamente as alianças políticas ganharão contornos mais nítidos e unitários – ressalvadas as diferenças teóricas e ideológicos dos partidos coligados.

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