17 novembro 2011

Sinais de novo tempo de lutas

Lá e cá um novo ciclo de lutas em perspectiva
Luciano Siqueira

Publicado no portal Vermelho www.vermelho.org.br

Em debates de que tenho participado nos últimos dias, a lembrança da previsão de João Amazonas, para quem o século XXI seria de “luzes e sombras. A princípio, mais de sombras do que de luzes; porém da segunda década em diante, um novo ciclo de transformações provavelmente acontecerá mundo afora”. Isto porque, analisava o dirigente comunista, seria impossível aos povos suportarem indefinidamente as consequências das políticas neoliberais então vigentes.

Pois bem. O que ocorre hoje na Europa, envolvendo os países da chamada Zona do Euro (e também nos EUA), em meio à segunda fase de agudização da crise global (iniciada em 2008), prenuncia o tempo de luzes a que se referia Amazonas. No EUA, faliu a estratégia de reconfiguração da dominação norte-americana sobre a economia mundial, com o estouro da bolha especulativa. A economia faz água e o governo Obama não encontra mecanismos capazes de retomar a produção e a oferta de postos de trabalho. Recorre às investidas bélicas na Ásia como forma de incrementar sua indústria armamentista, repetindo o figurino dos antecessores.

Na Europa, se em 2008, com a quebra de grandes bancos, seguradoras e grandes empresas envolvidas em operações especulativas de derivativos, os Estados puderam injetar trilhões de dólares na tentativa de salvá-los, agora a insolvência acomete os próprios Estados, que os bancos não poderão socorrer. Alemanha e França, líderes econômicos da Comunidade Europeia, já sofrem pesadamente o ônus de patrocinarem o socorro de países endividados, como a Itália, a Espanha e a Grécia. Mais: todas as medidas adotadas e previstas trazem a marca da recessão econômica, da regressão de direitos e do desemprego.

Uma onda de lutas operárias e populares, sinalizada em manifestações recentes, será questão de tempo. Certamente virá, ultrapassando os limites de sindicatos burocratizados e partidos de esquerda atônitos diante da crise.

Cá no Brasil o quadro é outro. Ainda fazendo uso de nossas potencialidades, apostamos em investimentos públicos em infraestrutura, no incentivo à produção e ao crédito e na manutenção de níveis razoáveis de emprego. Entretanto, o crescimento da massa salarial dos trabalhadores não acompanha em proporção satisfatória a curva ascendente dos lucros. Mesmo em regiões como o Nordeste, em que o crescimento do valor real do salário mínimo tem sido decisivo para a inclusão de milhões ao mercado de consumo, não se pode dizer que os que vivem do trabalho estejam bem aquinhoados.

Centrais sindicais, como CUT, Força Sindical e CTB, têm tentado colocar na agenda política a voz dos trabalhadores, através de demonstrações de rua.

Exemplo emblemático é o Complexo Portuário e Industrial de Suape, na Região Metropolitana do Recife, que concentra a maior parte dos grandes empreendimentos produtivos que alavancam o crescimento econômico de Pernambuco a taxas mais elevadas do que o conjunto do País. Ali os trabalhadores são submetidos a condições inóspitas e percebem salários bem abaixo do que pagam as empresas em relação a sua matrizes em outras regiões, do País e de fora – o que tem motivado manifestações ainda localizadas, porem expressivas, de operários que desejam melhor tratamento, a quase totalidade, neste caso, a margem de sindicatos burocratizados e passivos.

As situações são distintas, mas tanto lá fora como cá entre nós, gesta-se um novo ciclo de lutas operárias e populares.

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