14 janeiro 2012

Capitalismo, uma década

No Vermelho, por Eduardo Bomfim:
Sem nenhum limite

Por um dessas casualidades encontro entre os meus papéis velhos que não foram queimados ou rasgados, uma extensa análise publicada na revista Carta Capital em 2001.

E isso sempre é interessante quando acontece porque nós podemos cotejar não apenas as opiniões mas observar as grandes transformações que se efetivaram no mundo e no Brasil no período de dez anos.

Já se disse profeticamente que há dias que valem por anos e há anos que valem por dias sob a perspectiva das grandes transformações progressistas em escala mundial.

No entanto esse período de dez anos que nos separa desse texto de 2001 mostrou que a roda da História tanto se move para frente, ou fica atolada em terreno lamacento por um bom tempo, quanto pode também se movimentar por saltos em marcha ré.

Não que os retrocessos sejam uma novidade mas um que além de ser econômico também é ideológico, em dimensão global, talvez seja algo inusitado na recente História contemporânea.

Tanto quanto uma crise planetária do capitalismo onde os Países do primeiro mundo afundam no lodaçal da recessão, do desemprego de centenas de milhões, e pari passu, há uma ascensão econômica, geopolítica, de nações emergentes como os BRICs, Brasil, Rússia, China e Índia.

Na última década do século vinte houve uma onda de fusões e uma reengenharia do capitalismo que proporcionou durante dez anos um crescimento anual médio da ordem de 15% nos lucros e no valor de mercado das grandes corporações, chegando a mais de 25% em setores de ponta.

Mas como diz a análise da revista, o capital entendeu que seria possível manter essa tendência por longo prazo, sabendo que é impossível a massa total de lucros crescer indefinidamente mais que a produção sem as devidas consequências.

Nesses últimos vinte anos "o capitalismo conseguiu realizar o seu sonho de derrubar as fronteiras", construiu uma nova ordem mundial, fragilizou ou fragmentou Estados soberanos, promoveu uma revolução tecnológica, instituiu uma governança global de fato, guardiã e fiscalizadora de uma espécie de constituição internacional discricionária, imposta aos povos.

Um capitalismo que massacrou identidades e culturas nacionais, promoveu invasões sangrentas, assassinatos políticos brutais, produziu talvez a sua maior crise econômica estrutural, e visando o lucro, esgarçou ao extremo e sem nenhum limite, as relações sociais e humanas.

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