25 fevereiro 2012

Dilema do PSDB em São Paulo

Tucanos no samba de uma nota só
Luciano Siqueira

Publicado no portal Brasil 247 

Mesmo cá da província, necessário acompanhar o que se passa na maior cidade do país, São Paulo. Até porque o Brasil é um todo e o pleito municipal na capital paulista terá óbvia influência em 2014, local e nacional.

Assim, três anotações são possíveis – e úteis para a compreensão do que se passa igualmente em outros lugares, guardadas as especificidades regionais e locais.

A primeira se refere à complexidade da situação, que envolve alternativas várias – seja no campo das forças que nacionalmente se perfilam em apoio ao governo Dilma, seja nas hostes contrárias. O PT, com a candidatura do ex-ministro Fernando Haddad a tiracolo, movimenta-se no sentido de atrair o apoio do PSD do prefeito Kassab, a cujo governo os petistas fazem oposição. O PCdoB, que empunha o nome do vereador Netinho de Paula, de grande apelo popular, empenha-se em viabilizar essa candidatura própria brandindo argumentos mais do que justos, com respaldo em tendências reveladas por pesquisas. O PMDB do vice-presidente da República Michel Temer apresenta o deputado Gabriel Chalita. O PSB, nacionalmente alinhado ao PT e ao PCdoB, parte da premissa de que deve fortalecer o PSD do qual espera solidariedade em outras cidades importantes do País.

A segunda anotação apenas reforça as pretensões dos diversos partidos, mesmo entre aliados que se dispõem à disputa entre si: o pleito se dará em dois turnos e, com uma boa dose de espírito democrático, bom senso e flexibilidade política, comportará discrepâncias sem prejuízo de alianças num provável segundo turno.

A terceira anotação lança luz sobre as dificuldades do maior partido de oposição ao governo federal, o PSDB, envolto no dilema de absorver uma prévia entre quatro postulantes ou lançar mão, uma vez mais, do ex-prefeito (e também ex-governador, senador, deputado, ministro) e duplamente fracassado candidato à presidência da República, José Serra. Serra, nos últimos tempos, converteu-se numa espécie de Geni tucana: execrado quando se insinua para uma nova aventura presidencial, porém saudado como heroica solução para a disputa municipal. Mesmo carregando nas costas acidentes de percurso anteriores, como o da promessa não cumprida de que exerceria o mandato de prefeito até o fim.

O dilema tucano e o apego à solução Serra soam como melodia incômoda de um samba de uma nota só própria de um partido que não tem sido capaz de se renovar, cronicamente anêmico de ideias e propostas programáticas. Partido sem ideias é como saco vazio: dificilmente se mantém de pé.

Uma derrota do PSDB em São Paulo teria profundas consequências sobre as suas possibilidades nas eleições gerais de 2012.

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