04 maio 2012

Palavras que o vento não leva

A inconveniência do discurso sem volta
Luciano Siqueira

Publicado no Blog de Jamildo

Na política, como na vida, nunca é demais deixar uma porta aberta – ou pelo menos uma janela – quando a situação é complexa. Não se trata de esperteza, antes de uma compreensão dialética dos acontecimentos.

Na política, então, basta firmeza de princípios. Além disso, cabe o máximo de flexibilidade porque a realidade – e o posicionamento dos atores em cena – dá muitas voltas. Sobretudo quando se trata de personalidades ou partidos pouco afeitos a compromissos programáticos e mais sintonizados com objetivos de curto prazo. Estes, em geral batizados de centristas, oscilam conforme o evolver da situação, podendo aliar-se à esquerda ou à direita. E são sempre importantes, pois pesam na correlação de forças políticas e, por extensão, na contabilidade eleitoral.

Demais, numa abordagem tática consequente, cabe sempre atrair apoios de correntes mais próximas e identificadas com o ideário comum; conquistar a adesão de correntes situadas ao centro e neutralizar as que, por razões diversas, não sejam suscetíveis de serem atraídas, de modo a isolar, enfraquecer e derrotar o polo oposto.

Postas essas considerações oriundas da experiência acumulada, vale sempre alertar para inconveniência do discurso sem volta. Ou seja, advertir os que proclamam posições ou inimizades definitivas e inarredáveis para o risco de terem, adiante, que refazer o discurso, agora numa situação de todo inconveniente.

Cá na província há exemplos emblemáticos. O atual senador Jarbas Vasconcelos, por exemplo, sempre foi pródigo em epítetos depreciativos e impropérios contra adversários com os quais, ao se reposicionar na cena política, terminou por se aliar. Cid Sampaio era “o usineiro de Roçadinho”, Joaquim Francisco “o mentiroso amarelo” e assim por diante. Mais tarde, convivendo com este e outros personagens num mesmo palanque, certamente as palavras agressivas pronunciadas em passado recente terá gerado algum constrangimento entre os novos aliados.

Na postura oposta, Miguel Arraes. O ex-governador jamais proferiu ataques pessoais ou destilou diatribes contra oponentes, deixando sempre uma margem possível de entendimento numa circunstância futura. E assim obteve êxitos importantes.

São lições sempre válidas, que quadros mais jovens e ainda iniciantes na prática da relação entre a unidade e a luta, o contencioso e a busca de convergências possíveis bem que poderiam valorizar. Porque na política, tanto quanto no cotidiano de nossas vidas, difícil é superar barreiras artificialmente criadas pela intolerância dos refratários ao respeito mútuo e à convivência com as diferenças de opinião.

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