26 junho 2012

Aparência e essência nas alianças eleitorais

Raul Córdula
Coalizões partidárias, conteúdo e forma
Luciano Siqueira

Publicado no Blog da Revista Algomais

Coalizões partidárias, obviamente, envolvem legendas de diferentes matizes políticos. Com alguma frequência representadas por lideranças que, na cena local, guardam entre si precedente conflituoso. No limite, o oposto seria cada partido por si, isoladamente, o que só ocorre em países onde o espectro partidário é de há muito estratificado. Assim mesmo, concluídas as eleições gerais, formam-se coalizões plurais para assegurar a formação do novo governo e lhe conferir condições de governabilidade.

No Brasil, o fenômeno muitas vezes se apresenta como verdadeiro caleidoscópio, constituindo-se alianças em certa medida inesperadas, porém não menos necessárias. Desde que concertadas em torno de um projeto comum, de curto e médio prazo. Isto vale tanto para os partidos que se perfilam no campo à esquerda, como para os situados à direita. Forças de centro costumam oscilar entre um polo e outro, conforme as circunstâncias.

O exame criterioso das coligações partidárias há que considerar devidamente forma e conteúdo, que nem sempre se adequam perfeitamente. Olhem-se as siglas ajuntadas em torno de um projeto eleitoral ou no apoio a um governo constituído: ora exibem desenho aparentemente coerente, ora a aparência é contraditória ao excesso. Quem diria, por exemplo, que o PP (no qual milita Paulo Maluf) passaria à base de sustentação do governo Lula, e agora do governo Dilma, numa aliança que já perdura há 10 anos?

"Absurda incoerência!", esbravejam os que olham tão somente a superfície. "Nem tanto", contrargumentam os que se dão ao trabalho de verificar que o apoio do PP não comprometeu os avanços significativos registrados nos oito anos de Lula, no rumo de um novo projeto nacional de desenvolvimento. Implicou contradições e disputas, no interior do governo e na sociedade, é verdade, nem sempre bem resolvidos; mas contribuiu para dar ao governo a sustentação parlamentar indispensável à governabilidade.

Cá na província, Eduardo Campos elegeu-se governador pela primeira vez tendo passado ao segundo com o apoio decisivo do PR (liderado pelo deputado Inocêncio Oliveira, de larga tradição nas hostes conservadoras) e do PP (que tem entre seus próceres o ex-deputado Severino Cavalcanti, idem). Mas jamais esses dois partidos de extração conservadora deram forma e conteúdo à campanha e, posteriormente, ao governo. Foram e continuam sendo aliados importantes, mas o conteúdo do projeto político-administrativo é determinado pelos compromissos programáticos assumidos publicamente pelo PSB e seus parceiros à esquerda.

Isto posto, sejamos capazes de enxergar o jogo natural das alianças políticas com um olhar menos preconceituoso e mais afeito à análise concreta da situação concreta.

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