15 janeiro 2013

Em honra do Frei Caneca


Discurso proferido por Betania Corrêa de Araujo, diretora do Museu da Cidade do Recife, no domingo 13 de janeiro de 2013, na celebração oficial dos 188 anos da morte do Frei Caneca

 
Dizem que Leonardo da Vinci passou a vida sonhando com a possibilidade de voar, por ter nascido num vale cercado de montanhas .

E possível que o menino Joaquim da Silva Rabelo nascido numa estreita faixa de areia entre o rio e o mar, num lugar chamado Fora de Portas, na Vila de Santo Antonio de Pernambuco, tenha muito cedo aprendido a ver o mundo de forma ampla, solar e desejado saber que havia do outro lado do mar.

Fora de Portas era o lugar que alojava a tripulação dos navios que chegavam ao porto do Recife. Com os homens que vinham do mar, vinham as notícias do mundo,

Notícias de revoluções, de escravos libertos, de povos ocupando ruas e derrubando muros. De cabeças reais caindo em praça pública.

A imensa curiosidade do jovem Joaquim, o levou ao Convento do Carmo e depois ao Seminário de Olinda onde contaminado pelas ideias de Platão, Aristóteles e de autores modernos franceses iniciou sua formação de pensador livre.

Encantado com o rigor da matemática e da geometria, disciplinas que o transformariam em professor, Caneca começou a imaginar um mundo equilibrado, justo, onde todos os seres pudessem ter acesso ao saber.

Inconformado com a forma autoritária do jovem império brasileiro lutou pela construção de uma República livre com uma Constituição que pudesse garantir direitos iguais a todos os cidadãos.

Criou um jornal, o Typhis Pernambucano, que funcionou como um dos veículos mais importantes das ideias libertárias da Confederação do Equador. O Typhis era lido em praça pública para o povo que desconhecia as letras.

O Museu da Cidade do Recife tem um amor muito especial por Frei Caneca. As muralhas do forte que hoje abrigam o Museu, testemunharam há 188 anos a solidão e a agonia de Caneca esperando um carrasco que aceitasse enforcá-lo . 

Mas o que fascina o Museu como instituição que se ocupa de garantir a guarda e a transmissão da história do Recife é seu imenso legado. Todo ano, ao renovar sua admiração por Caneca e pelos revolucionários de 17 e 24, o Museu renova seu compromisso com a história da cidade.

Criado há trinta anos e instalado em um edifício militar construído originalmente para defender a cidade maurícia, o Museu da Cidade tem o privilégio de conservar no seu acervo, além de fotografias, mapas e vestígios arqueológicos, o próprio forte. 

O Forte de São Tiago das Cinco Pontas, recentemente restaurado com recursos do Programa para o Desenvolvimento do Turismo do Banco Interamericano de Desenvolvimento, participa há quase quatrocentos anos dos fatos que marcaram a história do Recife . 

Hoje, desobrigado de suas funções militares, o forte continua a defender a cidade, guardando, processando e divulgando documentos que possibilitam a compreensão da história e a construção do futuro.

O museu acredita que o contemporâneo de Frei Caneca, Alexis de Tocqueville, autor do clássico “A democracia na América”, tem razão quando afirma: “Quando o passado não ilumina o futuro, o espírito vagueia na escuridão.”

Quero agradecer ao Prefeito do Recife, a Luciano nosso vice-prefeito e a Leda Alves, nossa secretária de Cultura pela confiança e pela possibilidade de expressar essas palavras e oferecê-las ao nosso querido professor Denis Bernardes, historiador social que mergulhou profundamente na questões políticas do Brasil do século XIX. Denis, que nos deixou uma bela obra, nos deixou também um estranho vazio.

Agradeço aos ouvintes pela atenção.

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Luciano Siqueira,
Gostaria de saber como teve acesso ao discurso da diretora do Museu da Cidade do Recife? Ele aparece na íntegra em seu blog?
Será que seria possível você me fornecer um contato específico do museu para que eu possa entrar em contato com eles e saber se possuem o registro deste e dos discursos proferidos nos anos anteriores em comemoração ao aniversário de morte de frei Caneca?
Ficaria muito grata se pudesse me dar essas informações, qualquer uma delas.
Cordialmente,
Liliane Carrijo