30 janeiro 2013

O poeta e o tabagismo

Evitável veneno de cada dia
Luciano Siqueira

Publicado no Blog da revista Algomais

 
Antonio Maria certa vez escreveu que mereciam sua confiança os bêbados e os poetas. Faltou ao cronista acrescentar: porém nem sempre. Bêbados erram, poetas também.

Mario Quintana, poeta da sensibilidade e da leveza, entrou numa tremenda contra mão ao recitar: “Desconfia dos que não fumam;/esses não têm vida interior, não tem sentimentos./O cigarro é uma maneira sutil,/e disfarçada de suspirar.”

Pode ser, poeta, sinal de vida interior - mas não o único. Há muitas outras maneiras de curtir a própria subjetividade, sem os efeitos danosos do tabaco. Aliás, o hábito de fumar, dizem os estudiosos do assunto, surgiu na Inglaterra por volta de 1580 – até então, a vida interior de que fala Quintana se expressava por outros meios...

Quantas canções, quantos poemas, quantas cenas clássicas no cinema, quantas passagens marcantes na litaratura?... O cigarro tem inspirado a arte ao londo tempo, conferindo charme e estimulando a imaginação. Mas o danado é que mata muita gente. Fumantes e não fumantes em ambiente contaminado pela letal fumaça, 3 milhões de pessoas no mundo anualmente. Mais do que AIDS, acidendentes de trânsito, cocaina, heroina, alcool e suicidios.

Um cigarro contém cerca de 4.720 substâncias tóxicas, todas maléficas, e uma delas, a nicotina, provoca dependência física e psicológica.

Segundo a PNDA (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), em 2008 o Brasil atingira a marca de 24,6 milhões de fumantes contumazes nas faixas etárias a partir de 15 anos (17,2% da população nessa idade), dos quais 15,1% fumantes diários.

A dependência da nicotina começa cedo. Aproximadamente 90% dos fumantes se sentem compelidos a fumar dos 5 e os 19 anos de idade.

Os dados epidemiológicos assustam. A organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) estima que no Brasil o cigarro concorre para 30% das mortes por câncer (90% por câncer de pulmão); 25% por doença coronariana; 85% por doença pulmonar obstrutiva crônica; e 25% por AVC (acidente vascular cerebral).

Melhor não citar mais dados assim tão tenebrosos. Até porque o tabagismo tem caído aqui e mundo afora, na esteira da propaganda contra e de medidas restritivas.

Dado o recado, continua valendo a crença de que os poetas e os bêbados – seres sinceros por natureza – continuam em alta em nosso conceito. Assim como o sempre lúcido Quintana, que nos conduz na rica e prazerosa senda da combatividade mesclada com a ternura e a alegria de viver.

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