21 fevereiro 2013

O jeitinho árabe de improvisar

Tapa buraco em pleno voo
Luciano Siqueira

 Publicado no Blog da Folha e no Jornal da Besta Fubana

Improvisação é com a gente mesmo. Sempre ouvi falar que estudiosos de diversos saberes atestam que o brasileiro é o ser mais criativo da face da Terra. Daí o valor de nossa mão de obra qualificada em outros países. Também a capacidade dos nossos operários manusearem equipamentos importados, de ponta, dando solução eficaz, inclusive, em caso de pane.

Mas a tripulação de um Airbus da Emirates, empresa aérea dos Emirados Árabes Unidos – uma das dez maiores do mundo -, teria ido muito além  na improvisação.

A certo instante do voo de Bangkok, Tailândia, para Hong Kong, China, a 8 mil metros de altitude ouviu-se uma grande explosão, causada pela invasão súbita de ar gelado na cabine. Uma as portas se abriu abruptamente, formando uma abertura de aproximadamente 4 centímetros, e a pressão despencou.

O normal – se é que se pode usar essa expressão no caso – seria um pouso de emergência. No entanto, o comandante e sua tripulação optaram pelo jeitinho árabe (concorrente direto, pelo visto, do nosso velho jeitinho brasileiro): com cobertores e travesseiros colados com fitas adesivas taparam a abertura e o voo seguiu.

O episódio é contado pelo passageiro britânico David Reid e seu filho Lewis e difundido por agências de notícias internacionais. A notícia não registra depoimentos de outros viajantes.

Já a Emirates nega, segundo um porta-voz oficial: "Nós podemos confirmar que houve um ruído saindo de uma das portas do A380 no voo EK384 entre Bangkok e Hong Kong, nesta segunda-feira, 11 de fevereiro. Em nenhum momento, a segurança do voo foi posta em risco".

O mesmo faz a Airbus: "Não é possível que uma porta da cabine abra em um A380 ou em qualquer aeronave enquanto estiver em voo, já que as portas abrem para dentro e têm mecanismos de bloqueio".

Agências de notícias não costumam relatar fatos com a precisão necessária à boa informação. A cobertura de conflitos onde estão envolvidos os EUA e seus aliados é uma prova disso. Também não consta que tenham por hábito espalhar dúvida sobre comunicados oficiais de grandes empresas, como a Emirates e a Airbus. Por isso, dá para acreditar que o tal passageiro britânico tenha dito a verdade, ou próximo disso, para merecer tamanho crédito das ditas agências.

De toda sorte, como viajo de avião com certa frequência, e o faço na tranquilidade de quem imagina que jamais possa acontecer algo assim, prometo botar o olho nas portas da aeronave, dando meu crédito pessoal a Mr. David Reid e seu filho Lewis. Afinal, a uma altura de 8 mil metros tudo pode acontecer. Ou não?

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