15 fevereiro 2013

Patrimônio imaterial da Humanidade

Frevo no pé e no coração!
Felipe Carreras*
Publicado no jornal "O Povo", do Ceará
"O frevo foi classificado pela Organização das Nações Unidas (Unesco) como Patrimônio Imaterial da Humanidade"

Brasileiros de outras regiões que visitam Pernambuco costumam se emocionar ao perceber, observando uma praça que se agita, febril, porque o mais pernambucano dos gêneros musicais é designado pela palavra frevo. “Parece uma panela em ebulição”, exclama o visitante, contaminado pela força da música e, literalmente, sugado pelo caldeirão fervente de foliões e alegria. A relação entre o substantivo frevo e o verbo ferver já está explicitada nos dicionários. O grande Houaiss, por exemplo, crava a origem da palavra como “alusão à agitação e ao calor da dança e da música”.

No fim do ano passado, 106 anos depois de ter sido reconhecido com seu nome de batismo pela primeira vez, o frevo foi classificado pela Organização das Nações Unidas (Unesco) como Patrimônio Imaterial da Humanidade. A concessão da honraria foi anunciada na 7ª Sessão do Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial. O frevo foi a única expressão da cultura brasileira avaliada nesta sessão, junto com outras 35 propostas.

Se é verdade que cada povo tem a manifestação artística que é própria do seu caráter, é também óbvio que a energia do frevo, seu ritmo febril e seu poder hipnótico são a mais perfeita tradução do modo de ser dos recifenses e dos pernambucanos, gente naturalmente agitada, rebelde, determinada ao erguer bandeiras de luta e apaixonada por sua própria identidade cultural.

Em razão disso, é o frevo que dita o ritmo das festas recifenses. Nas ruas, nos salões e nas praças reinam o frevo de rua, de bloco, canção ou abafa. O ritmo faz qualquer folião, até mesmo os menos habilidosos com a sombrinha, cair no passo. Não importa a idade, adultos, crianças e idosos se encantam. Ele é o rei do Carnaval de todo o Estado. É necessário, é curtido, é cantado, é dançado. Ele deixa mais leve a subida às ladeiras de Olinda e o calor de 40 graus dos mais de dois milhões de foliões que dividem as ruas estreitas da cidade para brincar no Galo da Madrugada.

O Recife ferve ao longo do ano ao som de Capiba, J. Michiles, Edgard Moraes, Getúlio Cavalcanti, Zumba, Nelson Ferreira, maestros Duda, Formiga e Spok e tantos outros compositores de primeira linha, mas é no Carnaval que essa paixão fica mais evidente. E para eternizar o ritmo, aulas gratuitas de frevo são realizadas diariamente nas praças e parques da cidade. Centenas de crianças se movimentam com suas sombrinhas ao som de Vassourinhas, clássico do Carnaval pernambucano.

Se as aulas gratuitas eternizam o frevo na alma, para repassá-lo entre as gerações a Prefeitura do Recife, com criação e realização da Fundação Roberto Marinho, vai montar o Paço do Frevo. Será um espaço para perpetuar a riqueza do principal ícone da identidade pernambucana. Um espaço para a difusão da cultura do frevo, além de pesquisa, lazer, capacitação e apoio profissional aos que atuam em favor dessa cultura.

“É de fazer chorar quando o dia amanhece e obriga o frevo a acabar! oh, quarta-feira ingrata, chega tão depressa só pra contrariar”. Este verso, eternizado em canção pelo compositor Luiz Bandeira, é um dos mais entoados pelos recifenses quando o Carnaval está para acabar. Isso porque, para o folião pernambucano, o frevo é autêntico, de raiz e só Pernambuco tem.

É o frevo, hoje, a expressão maior de nosso povo, marco da nossa cultura. E nos representa não só entre os símbolos nacionais da cultura popular, mas mundialmente, reconhecido em meio às mais representativas expressões da humanidade.
* Felipe Carreras felipecarreras@recife.pe.gov.br  
Secretário de Turismo e Lazer do Recife

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