05 junho 2013

Correlação de forças

Dilma e o Congresso real
Luciano Siqueira

Publicado no portal Vermelho www.vermelho.org.br

Ninguém governa com o parlamento que quer – nem escolhe deputados e senadores, quem os escolhe é o eleitorado. Tão obvio quanto a luz do dia - menos para quem teima em analisar o evolver da cena política tão somente a partir de supostas motivações e atributos individuais. No caso, da presidenta Dilma – acusada de leniência no trato com sua base partidária e parlamentar; e de lideres de bancadas governistas - supostamente incapazes de controlar seus liderados.

Esta semana, noticiou-se a advertência dos presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara dos Deputados, Henrique Alves (PMDB-RN), em audiência com a presidenta da República, sobre o risco de rebelião da base governista no Congresso, com implicações na eleição de 2014. Segundo eles, os peemedebistas estariam se sentindo marginalizados das decisões do governo e tenderiam a priorizar, daqui por diante, seus projetos estaduais. Para complicar, em suas aldeias também se queixam da ausência de reciprocidade por parte do PT, hegemônico no governo central.

Ora, além de dirigir o Congresso Nacional, o PMDB tem o vice-presidente da República, toca cinco ministérios e ostenta maioria nas duas casas legislativas. Governa cinco estados e duas capitais e expressivo número de cidades médias e grandes. Por isso mesmo figura com destaque no arco da aliança governista.

Tamanha força, entretanto, se expressa de modo dúbio. Partido de centro, oscila entre o apoio ao governo e a adoção de atitudes tipicamente oposicionistas; formado por verdadeiro mosaico de grupos regionais, tende naturalmente a priorizar interesses provincianos em detrimento de compromissos nacionais. Daí não ser um aliado fácil. É governo, mas ao mesmo tempo impõe dificuldades – e penosa negociação – a cada matéria de maior relevância que tramita no Congresso.

Demais, o peso específico do PMDB se faz mais saliente ainda quando se examina todo o espectro partidário governista, determinando uma correlação de forças “interna” que confere à base de apoio da presidenta matizes mais conservadores do que progressistas. Dilma realiza um governo democrático, comprometido com o povo e a Nação, empenhado em avançar nas mudanças que interessam à maioria, porém parcialmente inibido pela força das correntes conservadoras nas quais obrigatoriamente tem que se apoiar, sob pena de perda da governabilidade. PT, PSB, PCdoB e PDT, que em tese poderiam constituir um núcleo mais à esquerda que ajudasse o governo a dar passos mais ousados, não somam, juntos, quantidade de parlamentares suficiente para se sobreporem aos governistas mais conservadores.

Este é o parlamento real, fruto das escolhas do imenso e complexo eleitorado brasileiro; que reflete as contradições, as virtudes e os defeitos de nossa sociedade. Que não pode ser melhor em razão dos limites atuais do nível de consciência e de organização do nosso povo.

Eis a questão nodal, que extrapola em muito os humores e as habilidades da presidenta e o grau de competência dos líderes das bancadas governistas.
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