28 agosto 2013

Conteúdo e rumo

Três movimentos na contra mão
Luciano Siqueira

Publicado no portal Vermelho e no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)

Desde junho, há uma nova situação política no País. Eclodiram manifestações de rua de certa envergadura, que se desdobram em inúmeras lutas setoriais e localizadas; a oposição partidária e midiática se assanhou; setores conservadores da base governista passaram a ensaiar a dissensão. Ao que se acrescenta o desgaste momentâneo do governo e da presidenta Dilma, pondo em risco o resultado do pleito vindouro.

A variável povo nas ruas é, em princípio, muito bem-vinda. A pressão popular, bem direcionada, pode desequilibrar a correlação de forças em favor do centro-esquerda interessado em avançar nas mudanças em curso.

Mas, nem tudo o que reluz é ouro. Há três elementos negativos na cena política que favorecem as forças do retrocesso.

Inspirado no mais rasteiro corporativismo, mesclado de xenofobia absurda, surge o movimento das entidades médicas contrário à vinda de profissionais do exterior. Ao invés de debater a essência do Programa Mais Médico, inclusive os aspectos relacionados com o provimento de condições de trabalho satisfatórias e o entrelaçamento com a luta pela criação da carreira na estrutura estatal, lança mão de argumentos tão improcedentes quanto deploráveis, desde uma suposta incompatibilidade linguística e cultural entre os que vêm de fora e a clientela local, como se no mundo inteiro experiências semelhantes não ocorressem exitosamente. E ainda incorpora o preconceito contra os médicos cubanos, meio de atingir Cuba socialista.

Outro elemento nefasto reúne grupos de “ultra-esquerda”, anarquistas e mercenários a soldo da direita, que tentam imprimir a marca da baderna e da violência inconsequente à luta por bandeiras justas, relacionadas com o transporte e com a melhoria dos demais serviços públicos essenciais à população de nossas cidades. A ação desses grupos recebe amplo espaço na grande mídia, justamente porque podem vir a ser fator de desestabilização democrática.

O terceiro é o modo atabalhoado como a franja conservadora, de matizes mais à direita ou centrista, que atua numa espécie de limbo temporário, tenta forjar a todo custo alternativas à presidenta Dilma nas eleições presidenciais. Aí sobra retórica e falta conteúdo. Nenhuma contribuição relevante ao necessário debate sobre os rumos do País.

Nesse contexto, ocorre a disputa pelo rumo das manifestações de rua. As legítimas representações populares e democráticas, que pautam de há muito os temas emergentes em junho, têm diante de si a tarefa estratégica de elevar o nível e a amplitude dos movimentos reivindicatórios, combinando pleitos setoriais e locais com bandeiras de cunho nacional – as reformas estruturais em especial.

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