19 agosto 2013

Discriminação de gênero e raça

Fratura exposta da desigualdade
Luciano Siqueira

Publicado no Blog da revista Algomais
 
O Brasil progride e alcança melhoria importante das condições existência dos que vivem do trabalho, nos últimos dez anos. Mas permanece muito desigual.

Uma das faces contundentes da desigualdade se revela no mercado de trabalho – no caso, de gênero e raça – expressão nua e crua da discriminação.

Dados divulgados pelo jornal O Globo, colhidos junto ao IBGE indicam que mulheres e negros são mais de 60% entre os que estão desempregados há mais de um ano. Isto apesar do caráter inclusivo que tem marcado a evolução recente da economia brasileira, que roda com taxa de desemprego menor que 6% - o que equivale tecnicamente ao pleno emprego na maioria das categorias profissionais.

Analistas consideram que para mulheres e negros a conquista de um posto de trabalho é sempre mais difícil do que para outros grupos sociais; e a situação se agrava quando se reduz o ritmo da oferta. Segundo a reportagem, entre os trabalhadores que buscam emprego há menos de um ano, 53,9% são mulheres e 53,3%, negros. Percentuais que se elevam para 63,2% e 60,6%, respectivamente, entre os que estão desempregados há mais de um ano.

A economista Lúcia Garcia, coordenadora das Pesquisas de Emprego e Desemprego do Dieese, chama a atenção para o fato de que “quanto mais tempo a pessoa fica desempregada, mais tempo ela tende a ficar desempregada”. Isto quer dizer que quanto menor a taxa geral de desemprego, mais numerosos são negros e mulheres entre os desempregados de longo prazo.

Ainda de acordo com o Dieese, em 1999, quando a taxa de desemprego estava perto de 20%, negros e mulheres eram cerca de metade dos trabalhadores sem emprego há mais de um ano. Em 2012, quando a taxa de desocupação foi de 10,5%, nas contas do Dieese, eles superavam 60% dos desempregados de longo prazo.

Esses números expõem uma fratura social inadmissível e reforçam a absoluta necessidade do recorte de gênero e de raça no incremento do crescimento econômico. Ou seja: se buscamos desenvolver o Brasil com valorização do trabalho, distribuição de renda e sustentabilidade econômica e ambiental, é preciso que o façamos concomitantemente empenhados na redução das desigualdades sociais – inclusive mediante o combate à discriminação da mão de obra feminina e negra.

Isto nos impõe a peleja em duas frentes distintas e entrecruzadas. Uma, estabelecendo mecanismos concretos que favoreçam o acesso de mulheres e de negros ao mercado de trabalho, de caráter afirmativo. Outra, enfrentando o debate no terreno das ideias, vez que a discriminação comporta vieses de classe e culturais e ideológicos arraigados na sociedade brasileira, difíceis de extirpar. Tarefa dos que governam com compromisso popular e democrático; e do movimento social, dos sindicatos em particular.

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