08 agosto 2013

Transição complexa

Três equívocos no balanço da década
Luciano Siqueira

Publicado no portal Vermelho e no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)
 
Em debate a evolução do Brasil na última década, sob governos encabeçados pelo partido dos Trabalhadores – Lula e agora Dilma. Na oposição e mesmo entre as correntes aliadas, via de regra se tem cometido três equívocos.

O primeiro é dissociar a avaliação do atual governo, e do que o antecedeu, da transição, deflagrada em 2003, da ordem neoliberal vigente para um novo projeto de desenvolvimento do País. Transição que, pela dimensão dos interesses contrariados e pela complexidade teórica, política e técnica que implica, não se dá em linha reta. Tem caráter essencialmente contraditório, conflitivo, sujeito a avanços e a retrocessos, cujo conteúdo e ritmo são mediados pela correlação de forças real na sociedade e dentro do governo. Os que perderam o comando da Nação em 2002 jamais deixaram de resistir a transformações de maior envergadura; e dentre os que se ajuntam na base governista, parcela expressiva aceita mudar, mas nem tanto. Por isso os governos Lula e Dilma têm um quê de dualidade, em grande medida produto da dúbia composição de sua base de apoio.

O segundo equívoco decorre diretamente do primeiro e incorre numa abordagem algo mecanicista do processo de mudanças em curso. Faz-se como que uma pesagem em dois pratos de uma balança, comparando os pesos acumulados do que já mudou (em benefício do povo e da nação) e do que ainda se mantém (anacrônico, a serviço das elites). Constatando-se profundos e fortes traços estruturais de desigualdade na sociedade brasileira, conclui-se, apressadamente, que quase nada mudou e, portanto, sequer vislumbra-se a possibilidade de um projeto de desenvolvimento inovador e avançado.

O terceiro equívoco é fechar os olhos para as conquistas reais acumuladas no período, tanto na melhoria das condições de existência do povo quanto na prática democrática e na afirmação do Brasil como nação soberana no concerto internacional. Em dez anos, nunca se promoveu tamanha oferta de empregos, parcela expressiva com carteira assinada; se elevou o valor real do salário mínimo e a massa salarial dos trabalhadores (de 78 para 320 dólares); e se incorporou tanta gente ao mercado de consumo (mais de trinta milhões!). Basta anotar que de Collor a FHC, 12 milhões de empregos foram extintos; de Lula a Dilma, foram criados mais de 20 milhões de novos empregos formais.

A oposição necessita desconstruir os êxitos alcançados. Está no papel dela – e na sua insuperável inconsistência.

No campo democrático e progressista, a impaciência e o voluntarismo distorcem a percepção da realidade e impedem a compreensão dos ingentes desafios postos na ordem do dia – mediante reformas estruturais que destravem o desenvolvimento do País -, que precisam ser vencidos sob risco do retrocesso. Com os pés no chão e a força do povo.

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