19 setembro 2013

Discernimento e habilidade tática

A força e o jeito
Luciano Siqueira

Publicado no portal Vermelho www.vermelho.org.br

Em política, ter força é fundamental. Óbvio. Mas é preciso jeito para o bom uso da força. Vale para quem governa e para quem se coloca na oposição.

O jeito de fazer as coisas, ou seja, de se conduzir na cena política, tem tudo a ver com a justa avaliação da correlação de forças e com uma postura tática consequente. Em todas as esferas da luta - da guerra militar às porfias cotidianas da política -, incontáveis são os exemplos de uso inadequado da força que se presume ter ou que efetivamente se tinha, resultando em fracassos muitas vezes surpreendentes.

No Brasil, há exemplos emblemáticos. Na Insurreição Pernambucana, contra a ocupação holandesa (1645 a 1654), na Batalha dos Guararapes, Francisco Barreto Menezes, Henrique Dias e André Vidal de Negreiros, lideraram uma epopéia em que a astúcia e a capacidade de manobrar em situação adversa, possibilitaram aos insurretos vencer o poderoso exército holandês, de contingente muito mais numeroso, munido do que havia de mais moderno em armamento à época, fortalecido por vitórias obtidas em outras terras - porém treinado para a guerra de posição, em terreno plano. Atraído para área acidentada e semi-encoberta pela mata, surpreendido por emboscadas típicas da guerra de guerrilhas, o mais forte perdeu para o mais fraco.

Em pelejas eleitorais, no passado e em tempo recente, situações que inicialmente se apresentavam previamente definidas tiveram desenlace inverso, justamente pela capacidade tática de forças inicialmente em desvantagem, e pelo comportamento precipitado, extemporâneo ou presunçoso das que partiram em vantagem.

Estamos a pouco mais de um ano das eleições gerais de 2014, que terão como cerne a disputa presidencial, por si mesma fator de tensão e até de instabilidade institucional, ao longo de nossa breve história republicana. O poder local também tem essa característica. Em Pernambuco, por exemplo, desde a República Velha, quando Dantas Barreto e Rosa e Silva chegaram a trocar tiros na disputa pelo Palácio do Campo das Princesas, ao tempo presente, em geral ocorrem disputas acirradas.

Portanto, renhidas batalhas simultâneas darão o formato e o ritmo do que acontecerá no ano que vem. Daqui até lá, toda atitude precipitada pode resultar em prejuízos irrecuperáveis no futuro. Isto porque o cenário ainda está por se configurar, sob a influência de muitas variáveis – umas poucas postas, a maioria ainda em gestação.

O fato concreto e irrecusável é que estarão em disputa dois rumos para o País: o que vem sendo trilhado há uma década, desde o início do primeiro governo Lula; e o que soçobrou no pleito de 2002, encerrando o ciclo neoliberal. De um lado e do outro se organizarão as forças presentes na cena política. Podemos até ter múltiplas candidaturas, mas a linha demarcatória estará nítida. Quem tem força ou supõe que pode conquistá-la no transcorrer da peleja, há de situar-se no lado que lhe cabe e não perder o rumo – porque por mais que se o subestime, o eleitorado brasileiro tem amadurecido e sabe distinguir as coisas.

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