21 setembro 2013

Uma crônica minha para descontrair

 
Gastando muito? Corra ao endocrinologista
Luciano Siqueira

 
O amigo é consumidor compulsivo. Em viagem à China, comprou de tudo – pelo menos quase tudo do que lhe foi oferecido: gravatas, relógios “Rolex” de eficiência duvidosa, bolsas e apetrechos vincados como se de grifes famosas... e até prosaicos e muito úteis pares de meia.

Na viagem de volta, mil artifícios para acomodar utilidades e bugigangas na bagagem, de modo a não pagar excesso de peso – em dólares! Afinal, ao chegarmos ao Aeroporto dos Guararapes, juro que – exaurido e sonolento em razão das muitas horas de voo – o ouvi perguntar ao carregador, que se aproximava empurrando o carrinho de bagagens: “Quanto custa?” Mas testemunhas idôneas asseguram que tal não aconteceu, foi pura imaginação minha, talvez devido ao porre de consumismo que havia presenciado na longa viagem...
Pois bem. Essa coisa de consumir sem limites, uns dizem que é doença, outros acham que nem tanto, e muitos consideram reflexo da propaganda maciça na TV, que associa prazer e felicidade à aquisição dos mais variados bens – dos inalcançáveis barcos a vela e carros de última geração a perfumes, desodorantes, refrigerantes e uísques diversos.

Tem outra explicação, cientificamente embasada. Pelo menos é o que agora leio no Valor Econômico, em matéria assinada por Noemi Jaffe.  O cientista Dan Ariely, dedicado ao estudo do "comportamento econômico dos macacos" (sic), assegura que seres humanos também cometem "erros econômicos básicos", como "não agir em função do futuro e repetir nossos erros sempre da mesma maneira".

Está no livro "Eu Compro, sim! Mas a Culpa é dos Hormônios...", de Pedro de Camargo, onde se indica tratamento endocrinológico para a superação do irrefreável impulso de consumir.
Imagine. O cara chega ao consultório médico e, perguntado sobre o que o incomoda, sapeca de pronto: - Doutor, estamos muito doentes, eu e minha conta bancária. Não paro de comprar coisas e no final do mês não há renda que me impeça de operar no vermelho!
E o médico, por sua vez, após detalhada anaminese e rigoroso exame físico, solicita bateria de testes laboratoriais, com ênfase em dosagens hormonais. No retorno, o paciente sai com a prescrição do medicamento X, comprovadamente eficiente na cura da nova entidade clínica, conhecida como “síndrome da gastança”.

Tempo moderno!, diria minha avó Neném, que à sua época se espantava com tudo o que era novo, a partir mesmo do uso de calças compridas pelas mulheres, que ela nunca aceitou.

E a disputa no mercado? De um lado, varejistas apoiados em cada vez mais sofisticadas campanhas publicitárias destinadas a explorar, via estímulos visuais e sonoros, a secreção de hormônios que conduzem a vítima à primeira loja da esquina. Do outro, a indústria farmacêutica anunciando a última descoberta, um inibidor hormonal, capaz de curar o mais incontrolável comprador de quinquilharias. Uma guerra pra gente grande, sem dúvida.

É isso, minha avó: assim caminha a Humanidade! 
 

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