22 dezembro 2013

Tricolor apaixonado

Três cores
Nilson Vellazquez, no blog Verbalize

 
Mais um ano chegando ao fim. Tempo das pessoas fazerem suas retrospectivas pessoais, dos telejornais realizarem as retrospectivas das grandes notícias do ano fazerem o apanhado do que de mais importante aconteceu durante o ano e, para os afeitos ao esporte bretão, comemorar ou chorar o desempenho do seu time de coração durante o período.

Não me proponho neste texto a nenhuma das três ações acima citadas; mas como, apesar de capaz e estimulado a fazer retrospectivas pessoais e políticas, utilizo este espaço para falar um pouco sobre uma de minhas grandes paixões: o futebol, digo, o Santa Cruz Futebol Clube.

Num ano em que o clube das três cores conquistou dois títulos importantes - tricampeonato pernambucano e campeonato brasileiro da série C - muitas foram as matérias de caráter nacional que deram destaque ao principal feito desse clube. Longe de exaltar, somente no campo, as conquistas realizadas, o poder de mobilização popular de que o Santa Cruz é capaz foi alvo de inúmeras menções Brasil afora. Por mais um ano, o Santa Cruz - mesmo disputando uma série C do campeonato brasileiro - foi um dos clubes com a maior média de público no Brasil. Esse feito não tem sido novidade para sua torcida, que sofrida, e de origem extremamente popular, enxergam no seu clube algo que constitui a sua personalidade e parte importante da sua vida - pedreiros, garis, trabalhadores terceirizados, pessoas simples, que além de contribuir para a popularização desse esporte bretão, encaram com paixão a queda e ascensão do seu time.

Além do já comentado e batido caráter popular do clube da Beberibe, neste ano, uma pitada a mais de irreverência e de identificação com o povo contribuíram para tornar o sofrimento de muitos que choraram a tragédia recente do time em verdadeira alegria. Os gols de uma estrela cujo apelido rememora sua infância pobre, num bairro da periferia do Recife - Flávio Caça-Rato - marcaram uma relação de simbiose entre torcida e clube, entre jogador e time, entre time e povo. Todos, uma só personalidade.

Personalidade. Junto-me a esses milhões de torcedores que viram a tragédia do Santa Cruz e que, ao final de mais um campeonato, choraram, bebemoraram e cantaram as cores desse clube. Nesse momento em que arenas maravilhosas são construídas; em que a presença de torcidas organizadas é discutida e a possível "elitização" do futebol se torna próxima, estive presente para presenciar e me vangloriar junto a todos esses. Estive porque estou certo de que mais do que torcer para um clube, torcer para o Santa Cruz constitui uma personalidade, um lugar na subjetividade dessa palavra de definir. Identifico-me com meu time para além de seus resultados e campeonatos que disputa. Sou um pouco - ou muita parte - de Santa Cruz. Que chora, que ri, que reclama da vida, da bola que nunca entra, dos gols sofridos aos 45 minutos do segundo tempo; mas que, no domingo seguinte, veste sua camisa com a esperança de extravasar o grito de gol. Sou todo Santa Cruz e tenho certeza de que não seria quem sou caso torcesse por outro time. Ser Santa Cruz me faz ser mais povo, me faz valorizar cada vitória e reconhecer em cada momento difícil a esperança de uma nova aurora. É assim, há vinte e seis anos comigo, mas há cem com milhões e milhões. Viva o time do povo, viva o Santa Cruz!

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