11 janeiro 2014

Ano eleitoral



A oposição, na defensiva, tergiversa
Por  Walter Sorrentino*

O terrorismo da mídia sobre a situação econômica do país em 2013 e que persiste para 2014 refletem interesses do “mercado” dominado pelo setor financeiro e não encontra amparo nos fatos. Luis Nassif vai ao mesmo ponto em matéria recente. Ele a atribui à guerra movida pela mídia do eixo Rio-São Paulo, cuja manipulação se dá no vazio, superdimensionando fatos. Bingo!

Argumentei também que a oposição não propõe um projeto de nação capaz de dar continuidade em outro patamar ao atual ciclo de desenvolvimento no Brasil (e na AL). FHC deu um novo tom à pregação oposicionista em entrevista ao Estadão, domingo passado; Nassif tratou desse assunto: para ele, FHC não tem como se diferenciar do discurso de Dilma, restringindo-se mais ao modo de governar que a um outro programa de governo. Reflete uma defensiva política. Um dos epígonos do governo de FHC, Marcos Lisboa (ex-secretário de político econômica da Fazenda) entende que os resultados “medíocres” do crescimento econômico nada mais são do que a crise do desenvolvimentismo.

Chama muito a atenção nesse sentido duas questões. Uma é a da pregação em uníssono de que a inserção internacional do país estaria engessada – carregando o ônus do Mercosul semi-paralisado e não adentrando a Aliança do Pacífico e a Associação Transpacífico. Não há só no Brasil essa pressão, como se vê em entrevista de Pepe Mujica, presidente do Uruguai. Pepe foi direto ao ponto: existem hoje mais de 300 tratados bilaterais de livre comércio, o que demonstra que não existe o livre comércio, e a Aliança do Pacífico e Associação Transpacífico tem por propósito isolar a China, dentro da estratégia norte-americana. E isso não corresponde aos interesses nacionais, nem no Brasil nem no Uruguai, no caso. Por que teríamos que fazer parte dessa estratégia? Por que integrar essa estratégia, como subordinados?

A outra é sobre o regime de partilha: tanto FHC como Aécio o criticam. Aquele, porque não se maximizou o valor da concessão por falta de concorrência (e confiança, diria ele). Aécio até se contradiz abertamente, em Carta Capital, pois critica a suspensão dos leilões por cinco anos, para preparar o regime de partilha no pré-Sal, e em outro momento diz que tudo foi grosseiramente improvisado. No fundo, tergiversa, sem querer lidar frontalmente com a questão do regime de partilha: “eu colocaria em discussão publicamente”.

As duas questões somadas indicam que, no fundo, a oposição política do PSDB é o que é: um outro projeto, subordinado aos interesses do mercado, com outra visão do desenvolvimento brasileiro. No momento, em defensiva política e escondendo seus propósitos. Por isso Aécio patina no discurso, no programa e na pegada eleitoral.

No caso de Eduardo Campos, além das impropriedades de pôr numa rota de mera continuidade o ciclo de FHC, do Plano Real, com o liderado pelo PT há onze anos, e não fazer referência à necessidade de uma reforma política, é o caso de conferir a “Construção em Rede”, onde se delineiam os propósitos de um programa de uma economia mais produtiva, um Estado mais eficiente e um novo modo de fazer política. Ele foi agrupado em três consignas: manter as conquistas das últimas décadas, aprofundar a democracia e construir as bases para um ciclo duradouro de desenvolvimento sustentável. Descontando o fato de que está “em construção”, é muito pouco o que se desvela para um norte bem estabelecido, em especial sobre a problemática questão nacional – a do desenvolvimento soberano – e, principalmente, os caminhos para alcançar esse norte são inescrutáveis nas formulações muitas vezes acacianas que se encontram no texto.

Por essas e outras, quem está em camisa de onze varas, como diz Belluzzo, é a oposição política. Do lado de cá, ainda é tempo de repetir: os desafios brasileiros são contingenciados por uma realidade mundial e nacional, econômica e política, cujo fundo é uma correlação de forças onde dominam os interesses financeiros, e a institucionalidade política brasileira é disfuncional atualmente para sustentar as rupturas necessárias para reativar as bases sociais necessárias – sem falar na falta de espírito politizador do próprio governo nessa direção. Aí residem os desafios de 2014 e do futuro próximo.
*Walter Sorrentino é membro do Comitê Central do PCdoB

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