20 fevereiro 2014

Qual debate?

Para além da Babel
Luciano Siqueira, no Vermelho e no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)



(Da minha correspondência por e-mail) - Telma amiga, você se inquieta em relação ao tom "caleidoscópico" do debate político no Brasil. Tem razão. Não é só você que precisa se esforçar para identificar, em opiniões díspares sobre um mesmo tema, onde está exatamente a polêmica e onde, infelizmente, se expressa o jogo de palavras. 

"A economia vai bem ou caminha para o desastre?", você pergunta. Certamente não caminha para o desastre, embora seja fato inquestionável que cresce lentamente, muito aquém das necessidades reais do Brasil e do nosso povo. Por que? Destaco aqui um dentre muitos fatores: as turbulências advindas de uma crise mundial que se arrasta sem solução e atinge países em desenvolvimento, como o nosso. 

Vejamos. Quem decide nos EUA e nos países centrais da Europa e no Japão são os representantes diretos (ou delegados) do chamado capital financeiro internacional. A oligarquia financeira, cujo apetite é insaciável. Os mesmos que desejam descarregar parte substancial dos seus investimentos no Brasil, não exatamente para produzir, mas sim para especular e ganhar na ciranda financeira. E para tanto pressionam o governo brasileiro em favor de "garantias" de que não correrão riscos (sic). Só que essas tais garantias implicam manutenção do câmbio flexível, ao sabor das oscilações internacionais; ultra-rigor fiscal, incluindo redução de gastos públicos com programas sociais e com o incremento da microeconomia, por exemplo, responsável por parcela considerável do nível satisfatório do emprego; e taxa básica de juros crescentemente elevadas. Ou seja: querem ganhar com a usura, às custas do nosso povo.

Isto para termos uma amostra da dimensão do debate em curso, marcado por distorções de toda ordem e tendo em mira a eleição presidencial. No fundo, essas pressões, que no País encontram eco em parte do grande empresariado e na grande mídia, tendem a aumentar e a tentar seduzir os principais atores políticos que se colocam contra o atual governo, especialmente o candidato Aécio Neves, do PSDB, que se lastreia em ideário de cunho neoliberal, expressão concentrada dos interesses da citada oligarquia financeira.

Daí porque a avaliação do desempenho da economia momentaneamente ocupa o primeiro posto no noticiário dos grandes jornais, redes de TV e rádio e portais e blogs na Internet.


Então, amiga Telma, só lhe resta - e a quem deseja, como você, compreender o teor do noticiário e do debate, para tirar suas próprias conclusões - exercitar a busca permanente de separar o joio e o trigo, com foco no que há de essencial em torno de cada tema e de distinguir entre as aparências e a essência das coisas. Difícil? Sim, como tudo o que verdadeiramente vale a pena - sobretudo no complexo terreno do embate de ideias. Que tal começar pelo questionamento da opinião que acabei de externar aqui?

Nenhum comentário: