06 fevereiro 2014

Trincheira da luta política

Siqueiros
Batalha campal
Luciano Siqueira, no Vermelho


A assertiva de Carl von Clausewitz de que "a guerra é a continuação da política por outros meios" - no sentido de que mesmo no confronto entre exércitos em campo de batalha é a orientação política que tem a primazia, bem que pode ser aplicada agora no Brasil quando no terreno da economia trava-se renhido combate cuja motivação essencial é precisamente a política. Com foco na eleição presidencial.

Em linguagem militar, o confronto entre o governo e o setor rentista (sob o biombo de "mercado") envolve guerra de guerrilhas e guerra de posições. Entrelaçadas. Sem tréguas. Reverberado na mídia, no Parlamento, no discurso dos partidos e seus próceres. E nas pranchetas dos marqueteiros.

Em uma década de governos hegemonizados pelo Partido dos Trabalhadores, o Brasil alcançou crescimento oscilante, porém ascendente - enquanto perdurou ambiente internacional favorável -, incluindo no sistema de produção de bens e serviços e no mercado de consumo, cerca de quarenta milhões de pessoas. Mesmo na ocorrência da crise global deflagrada em 2007/2008, em que oscilações e pressões externas impactam nossa economia, com reflexo direto na taxa de crescimento do PIB, vários indicadores diretamente relacionados com as condições de existência da população se mantêm positivos. Taxa de desemprego beirando o que se considera tecnicamente pleno emprego; ampliação da massa salarial; expansão do crédito ao consumidor individual; queda da inadimplência, etc., continuam ostentando níveis bastante satisfatórios.

Mas é preciso destravar a economia, rompendo com condicionantes macroeconômicos que inibem a produção e fazem a festa da usura. Metas inflacionárias excessivamente restritivas, câmbio flexível e juros elevados constituem o território estratégico a ser subtraído ao inimigo. Porque a continuidade do crescimento em patamar mais elevado há de combinar investimentos públicos e privados, em ambiente econômico de razoável confiança. 

Mas este não é um objetivo consensual – não no modelo em construção. Sob a palavra de ordem de reforço do tripé macroeconômico – tão caro aos tucanos e à líder da chamada Rede, Marina Silva – trava-se verdadeira batalha campal para inverter a orientação adotada pelo governo. Quando a taxa Selic foi abaixada a 7,5%, um dogma do “mercado” começou a ruir. Mas a reação foi rápida e contundente, mediante combinação ardilosa de múltiplos mecanismos e a exploração negativa das pressões decorrentes da crise global, fez-se de uma suposta pressão inflacionária (na esteira do aumento momentâneo dos preços de alimentos e da elevação de tarifas de serviços públicos) instrumento de instabilidade, levando o governo a recuar.

Nesse cenário, há um consenso entre os que pelejam pelo desenvolvimento de que um superávit primário em torno de 2% associado a mais investimentos públicos em infraestrutura gerariam ambiente favorável à expansão dos investimentos privados no setor produtivo. Mas o mundo da usura é implacável: pressiona na direção inversa. E entra com força para turbinar candidaturas de oposição.

Tudo no Brasil é para ontem, o povo não pode esperar. Mas a guerra da economia terá mesmo que ser resolvida no voto.

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