15 maio 2014

Desenho do embate presidencial

Inevitável polarização

Luciano Siqueira, no Vermelho

Em certa medida, a assertiva de Marx, no 18 Brumário de Luís Bonaparte, de que o curso dos acontecimentos muitas vezes é determinado por fatores objetivos e foge à vontade dos atores presentes na cena política, cabe na apreciação de um fenômeno recorrente em eleições majoritárias no Brasil: a polarização entre candidaturas que representam projetos opostos.

Vale retomar o assunto agora porque tanto em relação à disputa presidencial como nos estados, para os governos locais, há quem lastime a tendência natural à polarização do embate entre duas das candidaturas postas, impossibilitando o surgimento e a afirmação de uma pretensa "terceira via", assim chamada para matizar uma hipotética proposta programática que se diferencie essencialmente das demais, tanto à esquerda como à direita. 

O ex-governador Eduardo Campos, do PSB, ele próprio envolto nessa problemática com sua postulação à presidência da República, tem feito referência ao tema, afirmando ser negativo para o País o confronto PT X PSDB. - A sociedade brasileira cansou dessa polarização, diz ele. E, a seu modo, tem procurado abrir espaço ora elevando o tom do combate à presidenta Dilma Rousseff, ora adotando súbita agressividade contra o senador Aécio Neves, do PSDB, com quem disputa diretamente o segundo lugar no pódio, tendo em vista forçar um segundo turno. 

Não tem sido fácil. Por um lado, porque o próprio Eduardo e seu partido ajudaram a construir as mudanças que ocorrem desde o primeiro governo Lula, que prosseguem com Dilma, permanecendo, inclusive, na coalizão governista até outubro do ano passado. Por outro lado, em razão de semelhanças evidentes entre o atual discurso do PSB e o do PSDB no que se refere aos rumos da economia.

Apoiado nessas semelhanças, Aécio manobra justamente para acentuá-las, evitando assim perder para o socialista parte de sua base eleitoral. A ponto de dizer, em ilhéus, em evento recente, que se considerava em relação a Eduardo não um adversário, mas sim "um parceiro do mesmo sonho". 

A reação ríspida da ex-senadora Marina, endossada pelo próprio Eduardo, a essa declaração do tucano reflete exatamente a necessidade de se diferenciar e alimentar o desejo de fazer vingar uma terceira alternativa. 

Ora, a questão de fundo é de natureza objetiva. O Brasil vive uma encruzilhada: ou dá sequência às transformações em curso, no rumo de um novo projeto nacional de desenvolvimento; ou retrocede ao figurino neoliberal, que nos dois governos FHC consolidou as quase três décadas perdidas. A raiz da polarização está aí - e não na vontade subjetiva de petistas e tucanos, nem tampouco em artifícios midiáticos. 

Aí também reside a essência do confronto de outubro, para muito além do desenho caleidoscópico das coligações celebradas em torno das candidaturas presidenciais. As circunstâncias históricas levam a que o PSDB lidere a coalizão que defende o retorno ao modelo fracassado; e que o PT hegemonize a coalizão que peleja pela continuidade do novo modelo de desenvolvimento em construção.

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