11 julho 2014

Encarar a derrota com serenidade

Muito mais difícil do que vencer 
Luciano Siqueira, no Vermelho

Preferia não escrever agora sobre o assunto, mas um desabafo pelo menos cabe: como é difícil encarar a derrota!
Refiro-me não ao nosso povo, curtido por vitórias e insucessos em seu cotidiano. Somos capazes de reagir diante das maiores adversidades. A História registra inúmeros episódios que atestam a nossa bravura, a astúcia e a capacidade de aprender com as dificuldades. Danado é ouvir e ler as múltiplas análises que apressadamente a chamada crônica especializada produz como uma avalanche. Ícones artificialmente criados – como a tal “família Scolari”, para enaltecer uma suposta capacidade de comando do técnico Filipão – são descontruídos com enorme desfaçatez!
Na tradição revolucionária, a derrota é a mãe de todas as vitórias. Sequer o exército mais poderoso do mundo, em qualquer época, vence todas as batalhas. Vide o fracasso dos EUA no Vietnã. Daí a necessidade tirar lições dos insucessos ser pré-requisito de novas vitórias. Na Rússia, as forças revolucionários sofreram tremenda derrota em 1905-1907, gerando estragos de toda ordem, sobretudo no terreno ideológico e político. Lênin e seus companheiros foram capazes de extrair os ensinamentos pertinentes e em 1917 realizaram a primeira revolução proletária da História.
Querer que as coisas aconteçam de modo assemelhado no futebol brasileiro seria ilusório. Começa que o comando se encastela numa instituição de direito privado, a CBF, que se assenta em “princípios” questionáveis sob todos os títulos. Demais, o futebol – a seleção brasileira em especial – converteu-se de há muito em um grande empreendimento comercial, sujeito às leis do mercado e distante, anos-luz de um planejamento de longo prazo que considerasse todas as variáveis que fazem do nosso futebol marca cultural e paixão do nosso povo.
Entretanto, torna-se até divertido examinar as “teses” que precipitadamente vem à tona na mídia, na busca de explicar o inexplicável: a derrota estonteante da última terça-feira, sobretudo porque o escrete nacional não jogou, manteve-se petrificado e perplexo em campo, como que anestesiado diante da responsabilidade que lhe cabia. Desarrumado taticamente, carente de comando, incapaz de reagir. A partida em si está fora da normalidade, talvez se explique muito mais pela psicologia do que por outra disciplina. Pois mesmo adotando postura tática ingênua diante do time alemão, a falta de “pegada” do nosso time ficou evidente. Faltou garra.

Enfim, há muito que analisar – não agora, com a cabeça quente e às vésperas da incômoda disputa pelo terceiro lugar. Não dizem que o tempo é o senhor da razão? Pois esfriemos nossas cabeças para, com calma e descortino, nos dediquemos – especialistas e simples torcedores como o autor dessas linhas – a compreender a situação atual e os desafios do futebol brasileiro. 

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