22 julho 2014

Questão urbana crucial

Para melhorar a mobilidade

Oswaldo Lima Neto
Dentre os diversos aspectos que preocupam na mobilidade urbana, o congestionamento de tráfego lidera. Ele é fruto de uma política que vem privilegiando há décadas o auto privado. Minorar este problema, que influencia diretamente nossa qualidade de vida, depende de ações do poder público, porém depende também de uma mudança cultural da nossa parte, cidadãos, pois não há solução que não envolva restrição do uso do auto privado em determinados locais e horários. Este problema não é só nosso, ele está presente mundialmente nas cidades médias e grandes. Pretendemos apresentar boas práticas que vêm sendo internacionalmente adotadas visando minorar este problema.
A demanda por transporte é derivada da necessidade das pessoas em exercerem atividades que estão espalhadas no espaço, portanto, a maior ou menor necessidade de deslocamentos motorizados depende da localização destas atividades, ou seja, do planejamento do uso e ocupação do solo. Toda cidade que almeja um bom padrão de qualidade de vida tem de dispor de um plano de desenvolvimento urbano que orientará seu crescimento. Atualmente recomenda-se que ele seja denso e tenha uso misto, naturalmente é extremamente recomendado que este plano de desenvolvimento tenha na sua elaboração a participação da sociedade.
Algumas das questões que preocupam a todos atualmente podem receber soluções de curto, médio ou longo prazos.
As questões relacionadas ao tráfego são de curto prazo, necessitam de um órgão gestor de trânsito extremamente competente, que tenha um quadro de profissionais permanente trabalhando nos setores de engenharia de tráfego, fiscalização de tráfego e educação de trânsito, porém, que privilegie as ações de operação de tráfego ao invés da simples autuação. Este órgão tem de dispor e utilizar o que há de mais avançado em tecnologia nesta área.
Estas ações precisam ser complementadas por quatro medidas que irão certamente minorar o problema do congestionamento em médio e longo prazo. Primeiramente, não deveríamos permitir a localização de polos geradores de tráfego - shopping center, supermercados, lanchonetes, academias, etc. - em locais reconhecidamente já saturados, ou seja, devemos ter uma atenção ao uso e ocupação do solo. Em segundo lugar, deveríamos promover uma priorização real do transporte público e do não motorizado (bicicleta e pedestre), pois se eles ofertarem boas condições de conforto e segurança podem atrair usuários de auto, desafogando nossas vias. Em terceiro, precisamos adotar políticas de restrição ao uso do automóvel, seja através de uma política de estacionamento restritiva nas áreas congestionadas, o uso do pedágio urbano (ex. Londres e Cingapura), ou rodízio (ex. São Paulo, Cidade do México e Bogotá), dentre outros. E, por último, mas não menos importante, o uso amplo da intermodalidade, dispondo nas estações de metrô ou do SEI de estacionamento para bicicletas e auto com preço incluído na tarifa do transporte público.
Estas ações tem de ser pensadas em caráter metropolitano, exigindo do prefeito da capital um papel de liderança junto aos demais prefeitos da Região Metropolitana para que haja uma concertação dos governos locais na execução das mesmas.
Porém, cabe à sociedade um papel decisivo na implantação destas medidas seja cobrando, participando do seu planejamento, lutando por sua implantação e acompanhando sua execução. Para tanto, se dispõe hoje de uma ferramenta fantástica que são as mídias sociais. (Publicado no Jornal do Commercio, Recife).
(*) Oswaldo Lima Neto é professor da área de Transportes do Departamento de Engenharia Civil da UFPE, doutor em Planejamento de Transporte Urbano pela Universidade Técnica da Renânia do Norte Westfália, Aachen, Alemanha.   

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