28 agosto 2014

O que importa discutir

O debate da Band e outros debates

Luciano Siqueira

Um momento privilegiado da democracia, como costumam afirmar os candidatos participantes de debates, como o da Band, terça-feira última? Nem tanto, porque o formato que adotam serve para muitas coisas, menos para a clara explicitação do conteúdo dos programas de governo – o cerne da diferenciação entre os diversos postulantes.

Nem os debates, tampouco as entrevistas ao modelo do Jornal Nacional. Repórteres se esmeram na tentativa de constranger os entrevistados com perguntas supostamente embaraçosas, periféricas em relação ao que cada um pensa sobre o País e o que propõe para enfrentar as questões cruciais do seu atual estágio de desenvolvimento. No caso da Rede Globo, permeia todas as entrevistas o falso pressuposto de que todos – candidatos, partidos, apoiadores mais próximos – estão de algum modo envolvidos com a corrupção ou, no mínimo, são coniventes.

Daí porque, em relação aos debates televisivos, diz-se que, do ponto de vista de cada candidato, o importante é não perder – ou seja, não cair em nenhuma casca de banana ou responder mal a uma provocação. Ganhar é não perder. E pronunciar, se possível, uma frase de efeito, ou algo parecido, que sirva como destaque no noticiário do dia seguinte. Isto porque, mais importante até do que o debate em si, é a exploração dele no noticiário ou as versões veiculadas nas redes sociais.

Demais, há estudos que atestam a ineficácia desses debates como fator de alteração significativa no comportamento do eleitor. Seja bela baixa audiência, seja mesmo porque pouco ou nada esclarecem.

Pior: de certo modo o formato e o conteúdo dos debates televisivos – além do da Band vêm aí outros, inclusive o da autoproclamada Venus Platinada – refletem a superficialidade das ideias disseminadas na campanha eleitoral. A questão nodal da eleição presidencial – o confronto entre projetos nacionais diametralmente opostos – é tangenciada.

Ainda bem que há as redes sociais e blogs, apesar do tiroteio entre adeptos das principais candidaturas. O fato é que, distinguindo-se o joio e o trigo, na internet flui um bom debate, este sim, em que argumentos e dados possibilitam a identificação do conteúdo essencial dos projetos encarnados por Dilma e Aécio, e mesmo Marina, apesar da brutal tergiversação que a “sonhática pratica”, em nome de uma suposta terceira via, capaz de conduzir o País apoiada nos “bons” de cada partido, escoimando-se da gestão os “maus” – num maniqueísmo de fachada que rebaixa o nível da discussão e desinforma o eleitor.

Há, de toda sorte, milhares de internautas e blogueiros capazes de tomar partido e de trazerem à superfície a diferenciação tão necessária ao caráter efetivamente democrático da peleja eleitoral. Que cumpram o seu papel. (Publicado no portal Vermelho www.vermelho.org.br)

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