16 outubro 2014

Divisor de águas

Lances decisivos no segundo turno
Luciano Siqueira

Uma claridade imensa e surpreendente iluminou o céu no Recife, ontem à noite, gerando perplexidade e apreensão. Um bólido da chuva de meteoros orionídeos, resquício da última passagem do Cometa Halley, que a cada 76 anos bordeja a Terra – explicam especialistas. Nada a temer.
Pouco antes, agora não mais no espaço aéreo da capital pernambucana, mas no imenso e arriscoso ambiente do mercado de capitais, se verificara semelhante impacto, puxando o índice Bovespa para baixo, causado pela última pesquisa Datafolha, que aponta empate técnico entre Dilma e Aécio e crescimento da rejeição ao candidato tucano. A incerteza eleitoral volta a enervar os especuladores - registram analistas especializados. Tudo a temer - da parte deles.
Na verdade, não exatamente a luminosidade própria de uma chuva de meteoros, mas igualmente explicável, o desempenho do candidato do PSDB revela-se em desacordo com as expectativas geradas pelo imenso bombardeio das múltiplas mídias sobre a presidenta Dilma e o impulsionamento artificial da candidatura oposicionista. Tanto que, num dos “comerciais” de Aécio no rádio, no horário eleitoral, tem-se escutado um locutor de voz grave anunciar "quinze segundos de combate à presidenta" e o tempo é ocupado por um chamamento à leitura de revistas semanais, jornais diários e canais de TV, onde – segundo o áudio – se pode saber os defeitos da candidata situacionista. Uma confissão explícita do papel nefasto da mídia hegemônica na campanha eleitoral.
Pois bem, o que essa gente esperava era justamente que Aécio tivesse ultrapassado Dilma em oito a dez pontos percentuais e tal não aconteceu, passando a impressão de que a ascensão meteórica do tucano terá chegado ao seu cume. Agora a peleja se encaminha para o seu final à luz do dia e a critério do eleitor.
Tudo a ver com o confronto de ideias e o desnudamento do conteúdo essencial, antipopular e antinacional, do programa e da postura de Aécio – tal como se deu no primeiro turno com a candidata da Rede, Marina Silva, que atingiu o seu teto rapidamente e decresceu na esteira de suas contradições e ambiguidades.
Isto nos leva à percepção de que estamos diante dos lances decisivos do histórico embate, em que os debates televisivos e a as breves entrevistas diárias concedidas pelos candidatos – vistos e ouvidos por milhões de telespectadores – se associam às atividades de rua como duas frentes de luta interligadas. E no quesito mobilização popular Dilma leva vantagem por despertar uma atitude guerreira consciente, em contraposição à militância odiosa ou paga, tão barulhenta quanto anódina.

Nesse cenário, aos que pelejam pela reeleição da presidenta para que o ciclo de transformações em curso há doze anos possa prosseguir e se aprofundar, cumpre seguir o rumo determinado pelo comportamento da própria candidata – a exemplo do debate da Band -, que explicita com clareza o conflito entre dois projetos de nação diametralmente opostos. Aí reside a possibilidade de esclarecer e conquistar parcelas expressivas do eleitorado de extração popular, que pode votar segundo seus próprios interesses e não confundido pelo fundamentalismo neoliberal. (Na minha coluna semanal no portal Vermelho).
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